Estudo revela a contaminação massiva por poluentes eternos na Europa
Da Redação em 2 March, 2023
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Os chamados produtos químicos eternos, apesar de desconhecidos da maioria das pessoas, fazem parte da vida moderna e estão presentes em quase todos os utensílios domésticos. O problema é que estas substâncias tóxicas invisíveis são extremamente resistentes. Suas moléculas se acumulam em nossos organismos e no meio ambiente, transformando-se em um verdadeiro problema para ecossistemas e para a saúde humana.
As substâncias per e polifluoroalquil, conhecidos como PFAs ou substâncias químicas eternas, são moléculas sintéticas, muito resistentes, desenvolvidas nos anos 1940 a partir da união de átomos de flúor e carbono.
Desde então, elas são usadas de maneira intensiva, principalmente na fabricação de produtos antiaderentes, impermeáveis ou resistentes a manchas. Os PFAs estão presentes em roupas, tapetes, ceras para piso, panelas antiaderentes, embalagens a prova de gordura —como as dos fast-foods e de embalagens longa vida — e até no fio dental e em alguns cosméticos.
Existem mais de 4.700 diferentes produtos com químicos PFAS no mercado atualmente, fazendo com que esta seja a substância sintética mais fácil de se encontrar no mundo.
Pesquisa e mapeamento
Para ter uma ideia da extensão da poluição por estas substâncias, o consórcio de jornalistas “Forever Pollution”, que engloba 18 veículos de comunicação europeus, realizou uma investigação inédita que mapeou a presença dos PFAs na Europa. A pesquisa revelou que o continente está massivamente contaminado por estes poluentes eternos.
O consórcio de jornalistas recompilou informações de pesquisas sobre a contaminação pelos PFAs em países como França, Espanha, Inglaterra, Alemanha e Grécia.
Após quase um ano de trabalho, os jornalistas descobriram que a Europa tem 17 mil áreas onde a poluição pelos químicos alcança níveis preocupantes. Em 2.100 destes focos, os níveis são perigosos para a saúde humana, de acordo com especialistas que participaram da pesquisa.
Alguns destes locais estão ao lado de vinte fábricas de produção de PFAs localizadas pela investigação do consórcio, que até então não tinham sido catalogados.
“O ponto de partida da investigação foi localizar as indústrias produtoras de PFAs. Não existem muitas, porque é uma tecnologia complexa”, explica a jornalista Stéphane Horel, jornalista do Le Monde, que participou da investigação.
“Percebemos rapidamente que existiam muitos outros lugares importantes em termos de contaminação ambiental além das indústrias. Então nós encontramos uma metodologia usada anteriormente por cientistas norte-americanos para mapear os lugares provavelmente contaminados, nos Estados Unidos. Decidimos adaptar esta metodologia, com o apoio destes pesquisadores norte-americanos”, para a Europa. “Por isso dizemos que fizemos ‘peer reviewed journalism’, ou jornalismo revisado pelos pares, com apoio científico e validação, por cientistas, dos métodos que utilizamos”, explica.
Cidade das panelas de teflon
Um dos principais focos de contaminação está em Rumilly, em uma região de montanhas do sudeste da França. A cidade, conhecida como a capital francesa das panelas, é onde está localizada a principal fábrica da Tefal no país, produtora das célebres panelas antiaderentes feitas com teflon, material produzido com um PFA.
“O que é chocante é que o problema dos PFAs foi revelado no final dos anos 1990, nos Estados Unidos, devido ao caso de uma fábrica que produzia teflon e que poluiu o meio ambiente”, diz Stéphane Horel. “Temos na França uma usina Tefal, que fabrica o teflon, e nunca passou pela cabeça das autoridades testar a água em volta da fábrica, para saber se existia o PFOA, o PFAs que era utilizado até pouco tempo para fabricar o teflon. A primeira vez que isso foi feito foi em janeiro de 2022″, lamenta a jornalista.
Um dos grandes problemas dos PFAs é que a contaminação gerada por estes químicos não se concentra apenas em áreas onde estão localizadas as indústrias produtoras. Uma vez liberados no meio ambiente, as moléculas são transportadas facilmente pela água e poluem lugares distantes do foco original. Outro problema destacado por Stéphane Horel é a desinformação sobre o assunto.
“Isso que é impressionante com os PFAS. Estamos no meio de uma catástrofe, mas a maioria das pessoas nunca ouviu falar. É como se descobríssemos o problema dos agrotóxicos no estado que estamos atualmente, mas sem termos passado por todas as etapas anteriores”, diz. “Acho que é um choque para a opinião pública descobrir estas substâncias que são realmente desconhecidas. Além disso, o nome delas é complexo e não ajuda na compreensão do assunto”, completa.
Impacto da investigação
De acordo com a jornalista, ainda é cedo para medir o impacto do mapeamento, cujos resultados começaram a ser publicados nas mídias participantes do consórcio em 23 de fevereiro.
“Agora, o que me interessa é saber como isso será visto pelas autoridades, como elas vão utilizar estes dados, para medir a contaminação no meio ambiente, para informar a população. Para mim é isso que interessa”, afirma.
A data de publicação da pesquisa não foi escolhida aleatoriamente. A União Europeia abre uma consulta pública em 22 de março sobre o assunto, e em 7 de fevereiro a Agência Europeia de Produtos Químicos (Echa) divulgou um projeto para proibir todos os PFAs, no que poderia se transformar na mais vasta regulamentação da indústria química europeia. Com informações da Agência RFI.