Relatório revela o impacto ambiental de vídeos armazenados na internet
Da Redação em 18 July, 2019
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Nos últimos anos, o entretenimento doméstico passou por uma verdadeira revolução com a popularização de serviços de streaming, que permitiram o acesso fácil a milhares de opções de séries, filmes e vídeos pela internet. Empresas como Netflix e Amazon possuem hoje milhões de assinantes, revelando um filão que vem sendo explorado cada vez mais por gigantes do entretenimento, como Disney, Warner e Universal. No entanto, diferentemente do que o setor digital tenta vender ao público, essas tecnologias podem ter um impacto ambiental até então ignorado, especialmente em termos climáticos.
Esse é o alerta feito pelo think tank francês The Shift Project, que publicou no mês de julho o relatório Climate Crisis: The Unsustainable Use of Online Video, que quantifica o impacto de vídeos na internet (VoD, “tubes”, pornografia, redes sociais e outros) sobre o meio ambiente e o clima global. De acordo com o estudo, os vídeos online representam cerca de 60% do fluxo global de dados pela internet e, logo, corresponde ao maior volume de emissões de gases de efeito estufa no setor, com cerca de 300 megatoneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e). Para se ter uma ideia da dimensão, as emissões associadas ao streaming são iguais às da Espanha.
Isso porque, a despeito do que vem sendo apresentado por empresas do setor, a tecnologia de streaming está longe de ser um exemplo de “desmaterialização”. Os vídeos são armazenados em data centers e transferidos aos nossos terminais (computadores, smartphones, televisores digitais, etc.) por redes (cabos, fibra ótica, modems, etc.), em um processo alimentado por eletricidade, que geralmente gera gases de efeito estufa em sua produção. A demanda por eletricidade é alta por conta da natureza da mídia: 10 horas de vídeo em alta definição comportam mais dados do que todos os artigos em inglês do Wikipedia no formato de texto.
O alto consumo energético dessas tecnologias digitais vai contra os objetivos definidos pelo Acordo de Paris para conter o aquecimento global e reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). No geral, o setor digital é responsável por 4% das emissões globais de GEE, mais do que aviação civil. Essa parcela pode dobrar até 2025, deixando o setor digital parelho ao de transporte rodoviário. Isso porque o consumo de energia nesse setor está aumentando no ritmo de 9% por ano.
O relatório reforça também a chamada “sobriedade digital”, um conceito definido pelo The Shift Project que consiste na alocação de recursos em função dos usos, de forma a conformar o setor aos limites ambientais do planeta, ao mesmo tempo em que preserva as contribuições sociais mais valiosas das tecnologias digitais. Nesse sentido, os pesquisadores defendem que se inicie um debate público sobre a utilidade de alguns conteúdos digitais (por exemplo, a pornografia, que corresponde a 27% do tráfico de vídeo na internet hoje) e de tecnologias como a 8K, cuja necessidade pode ser questionável.
Destaques
· Os vídeos online representam 60% da distribuição de dados digitais na internet em todo o mundo em 2018; desse número, 34% são Video on Demand (VoD), 27% pornografia, 21% “tubes” e 18% outros
· Na distribuição geral de dados digitais, outros tipos de vídeo correspondem a 20% do fluxo global, e cobrem usos variados em websites, e-mails, mensagens instantâneas, arquivamento de fotos, redes corporativas, entre outros
· Os vídeos online foram responsáveis pela emissão de 306 milhões de tCO2e em 2018, comparável às emissões totais da Espanha no mesmo período
“Como as oportunidades digitais são valiosas, saber calibrá-las é essencial para preservar o que é útil. Ser ‘sóbrio’ também significa reinventar nossos usos para que eles cumpram as restrições relacionadas ao clima”, defende Maxime Efoui-Hess, pesquisadora do The Shift Project e uma das autores do estudo. “O relatório mostra que este pode ser um desafio estimulante”.
Adequação
Para os autores do relatório, implementar a sobriedade digital em vídeos online significa reduzir o uso e o tamanho dos arquivos. Isso implica na escolha entre designar um peso similar a cada categoria de vídeo online ou priorizar alguma(s) para melhor preservar seu uso – seja em termos de resolução/tamanho da mídia, design de plataforma, etc. Do ponto de vista climático, não é uma questão de ser a favor ou contra pornografia, streaming ou e-mails, mas sim de evitar que o uso de uma tecnologia essencial seja limitado por conta do abuso de outra tecnologia menos essencial. Por isso, de acordo com The Shift Project, é necessário avançar em uma regulação formal das plataformas de transmissão digital para que as emissões relacionadas a esse setor sejam reduzidas.
“Mais de 80% do tráfego de internet hoje está relacionado a entretenimento ou publicidade”, aponta Hugues Ferreboeuf, gerente do The Shift Project. “Em face à emergência climática que vivemos, esse dado deveria nos convencer que questionar nossos comportamentos digitais não é apenas desejável, mas factível”.
Para complementar o relatório, The Shift Project também apresentou a extensão para navegador (add-on) Carbonalyser, que permite ao usuário saber sobre o consumo de eletricidade e as emissões de GEE associadas ao uso da internet. Ela ajuda o usuário a entender melhor que, mesmo escondidos atrás de nossas telas, os impactos da tecnologia digital sobre o clima e nosso consumo de recursos são uma realidade. Essa extensão está disponível para o navegador Firefox. Com informações da assessoria.