Projeto Lontra alia preservação ambiental à sustentabilidade de comunidades
Da Redação em 4 January, 2019
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Conservação ambiental, pesquisa e sustentabilidade de comunidades, esse é tripé que sustenta o Projeto Lontra, idealizado pelo Instituto Ekko Brasil (IEB) há 30 anos, que tem como objetivo a recuperação e conservação da lontra neotropical (Lontra longicaudis) e da ariranha (Pteronura brasiliensis). Em 2010, com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobrás Socioambiental, o instituto iniciou conjunto de atividades e pesquisas que foram realizadas no decorrer de 24 meses. A segunda edição do Projeto 2012-2014, além de incluir ações no bioma Mata Atlântica e área costeira de Santa Catarina, também estendeu as atividades para o bioma Pantanal do Mato Grosso do Sul, quando inclui os estudos com as ariranhas selvagens. A presente edição traz como novidade a atuação para a Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (APABF), onde o IEB já participa ativamente como instituição membro do Conselho Consultivo.
Em Santa Catarina, APABF inclui áreas terrestres ao longo da costa (com cerca de 22% do território total de nove municípios) por onde passam trechos do gasoduto Bolívia-Brasil e enfrenta resistência de diferentes setores em torno de um consenso para a conservação da área. Localizada no centro sul do litoral de Santa Catarina, a área vem sofrendo com a urbanização intensa e desordenada, degradação dos ecossistemas costeiros e consequente comprometimento e degradação dos valores naturais e ecológicos, estéticos, históricos, simbólicos-identitários, e até mesmo dos produtivos. Além disso, a região possui uma coleção dos principais sistemas lagunares do Estado, entretanto pouco estudados e pouco conhecidos.
A presente proposta visa, portanto, contribuir com a APABF, que se apresenta no cenário nacional e internacional como um dos maiores santuários para a reprodução da Baleia Franca (Eubalaena australis), abrangendo ecossistemas de Mata Atlântica, lagoas, dunas, praias, restingas e marinho. A APA abriga diversas espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção, inclusive espécies migratórias. Com 156.100 ha, a APABF abrange nove municípios, incluindo o litoral sul da Ilha de Santa Catarina, Palhoça, Paulo Lopes, Garopaba, Imbituba, Laguna, Jaguaruna, Tubarão, e Balneário Rincão. Apesar de ter um apelo ambiental fortíssimo, a área tem carência de estudos com outras espécies, sendo que a Lontra neotropical se apresenta como outra espécie símbolo para a região, devido, principalmente, à presença do riquíssimo sistema de lagoas e rios da região. A chegada do Projeto Lontra na região visa preencher essas lacunas.
De acordo com a Presidente do IEB, Alessandra Bez Birolo, são nove municípios, um território, e muitas espécies que precisam ser conservadas e ainda estudadas. “O Plano de Manejo para a APABF, está na sua fase final, onde reuniu muitos atores deste território, para juntos terem um olhar cuidadoso para a APA da Baleia Franca. E o Instituto Ekko Brasil, por meio do Projeto Lontra, está atuando com o mesmo olhar para as lontras da região. As lagoas costeiras são locais de nosso foco de estudo e que precisam ser conservadas. Acreditamos na conservação pelo uso correto do território, beneficiando a todos que nele habitam”, explica.
Atuação do Projeto Lontra
O Projeto Lontra é o mais antigo trabalho de pesquisa e conservação desenvolvido pelo IEB, sendo o responsável por toda a mobilização e esforço dispensados na idealização e concretização da criação do próprio Instituto. Suas ações abrangem a recuperação, conservação e ampliação do conhecimento técnico de lontras e outros integrantes da família Mustelidae. Os trabalhos são realizados através de dois Centros de Pesquisa, Conservação e Educação Ambiental em dois importantes biomas, um na Mata Atlântica e outro no Pantanal.
Com base principal situada na Ilha de Santa Catarina em Florianópolis (SC), desde 2013, o projeto possui uma base no Pantanal do Mato Grosso do Sul, na cidade de Aquidauana, onde também realiza pesquisa com as lontras e ariranhas selvagens. Em todos esses locais, o objetivo do projeto é, por meio da mobilização social, atingir pessoas de todas as idades para que elas possam entender a importância da conservação da biodiversidade.
O Projeto como um todo segue as boas práticas do PMBOK© – padronização que identifica e conceitua processos, áreas de conhecimento, ferramentas e técnicas desenvolvido pelo Project Management Institute – e é organizado na forma de subprojetos, integrados entre si e tendo a mobilização social como tema transversal entre eles, de forma a atingir diferentes públicos com foco nas mulheres, negros, indígenas, comunidades tradicionais, crianças e jovens. A metodologia para as áreas de estudo do bioma Mata Atlântica e Pantanal inclui o geoprocessamento associado às coletas de dados em campo.
A mobilização socioambiental e a educação ambiental são vistas como ferramentas para se atingir às várias metas propostas e estão intimamente integradas às pesquisas, objetivos e cronograma de execução. O turismo de conservação no Pantanal e Mata Atlântica, as mudanças climáticas, a conservação da água, e a conservação da biodiversidade, representam os temas principais abordados na Educação Ambiental, foco do tema transversal do Projeto.
Através do tema transversal busca-se a coparticipação e a corresponsabilidade da comunidade para com o Projeto, por meio de ações que possam levar a ganhos econômicos e melhoria de qualidade de vida, associados à conservação da biodiversidade. Dessa forma, o conhecimento produzido é utilizado para a modificação de uma realidade adversa, com o envolvimento ativo dos pesquisadores (pesquisa-ação) e apoio técnico institucional. Como exemplo, podemos citar a proposta do turismo de conservação, fundamentada na autossustentabilidade e na geração de informações. Esses aspectos podem ser empregados para auxiliar no planejamento e gestão dos recursos naturais, além de ajudar na geração de empregos indiretos para os atores locais.
A estratégia de comunicação tem por objetivo informar, de forma clara e compreensiva, o valor do projeto, ou seja, o que o projeto, por meio de suas atividades, subprojetos, produtos e serviços, tem para oferecer aos seus stakeholders. Os resultados esperados incluem a criação de bancos de dados socioeconômicos e ambientais, o estudo da densidade e distribuição de ariranhas e lontras, o conhecimento do efeito do cativeiro no stress do animal, a determinação da maturidade sexual da espécie, o entendimento dos padrões etológicos, natos e inatos, dos indivíduos em cativeiro, além de procurar criar um sentimento de responsabilidade social quanto aos problemas enfrentados ou a serem enfrentados. Com informações e fotografias da assessoria. Arte: Observatório Eco.