Empresa inova na reciclagem de papelcartão com plástico
Da Redação em 14 January, 2019
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Existe um mito de que o papel que recebe uma camada de plástico para proteger embalagens não pode ser reciclado. Não é verdade. Na Ibema, terceira maior produtora de papelcartão do Brasil e um dos maiores players da América Latina, a reciclagem desse tipo de produto já é realidade, e as embalagens pós-consumo retornam à fábrica para compor novos produtos, numa verdadeira economia circular.
O Brasil tem uma longa história relacionada à reciclagem que remonta ao período colonial, quando os “garrafeiros” coletavam recipientes vazios nas casas. Portanto, não é de hoje que papel, vidro, metal e plástico são resgatados por quem pretende vendê-los. Além disso, temos a Política Nacional dos Resíduos Sólidos desde 2010, com a qual a indústria está profundamente comprometida, e uma grande rede informal destina mais da metade das embalagens produzidas no Brasil de volta para as fábricas.
A Ibema Papelcartão quer ampliar essa atuação, desfazendo o mito de que o papel revestido com plástico não pode ser reciclado, o que atrapalha o descarte correto dos materiais. Quanto mais embalagens utilizadas receber de volta, melhor, porque essas embalagens contêm fibras que podem ser utilizadas novamente no processo de produção do papelcartão e, dessa foram, não são enviadas aos lixões, grande problema ambiental.
“Quando o setor de papel desenvolve um produto, deve mirar a utilização pelo consumidor final, mas também que a embalagem desse produto volte à indústria para reciclagem”, diz o diretor técnico e de P&D da Ibema Papelcartão, Fernando Sandri. “O ideal é quando o projeto é feito de forma integrada entre fabricantes de embalagens, empresas de design, usuários de embalagem e varejo – os resultados são mais eficientes.”
A partir de 2010, a capacidade da indústria de reciclar esse tipo de material que produz se tornou crucial com a explosão do setor de food service (alimentação fora do lar). Esse é um mercado que exige cada vez mais embalagens, pois cresce mesmo em períodos de crise, tendo registrado um faturamento 85% maior entre 2010 e 2016, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação.
A explosão dos serviços de delivery por aplicativo é um dos motivos para o crescimento da produção física brasileira de embalagens, que cresceu 1,96% em 2017 e deve alcançar quase 3% em 2018, de acordo com a Associação Brasileira de Embalagens (ABRE).
Em meio a esse cenário, o uso do plástico associado ao papel é crescente, para oferecer a proteção adequada a produtos comestíveis e líquidos. Atenta a isso, a Ibema foi pioneira na América Latina ao lançar, em 2017, um papelcartão para copos, o Royal Coppa. Entrou para um mercado crescente – o consumo brasileiro de copos descartáveis é enorme e predominantemente de plásticos, mas o papel tende a crescer, substituindo esses copos descartáveis. Esse material para copos foi muito bem estudado antes de seu lançamento para garantir que sua formulação possibilitasse uma fácil reciclagem.
“Já reciclamos materiais com plástico em nossas plantas e a reciclagem de copos de papel caminha com sucesso. Nossa preocupação é que esse material possa ser recolhido e volte às fabricas para sua correta reciclagem. Além disso, a Ibema estuda opções de matérias-primas que substituam o polietileno”, explica a executiva de Inovação de Embalagens da Ibema, Fabiane Staschower.
Como funciona
E como funciona quando esse material retorna à fábrica? A tecnologia usada na Ibema para a reciclagem do papelcartão consegue separar as fibras de celulose e o plástico por meio de um tratamento mecânico. As fibras do plástico começam a ser separadas logo no início do processo, quando entram para a produção. Com processos de calor, agitação e muita água, as fibras se separam do plástico e esse é recuperado por meio de peneiras, enquanto as fibras vão direto para a produção do novo cartão.
Muitas vezes, por falta da correta orientação, essa preciosa matéria-prima acaba indo para aterros. “Estamos perdendo uma importante fonte de fibra da celulose quando isso ocorre”, lamenta Fabiane Staschower.
Mercado aprova
A iniciativa da Ibema em recuperar as embalagens feitas com seu papelcartão para reciclagem tem sido reconhecida no mercado. “A Ibema tem facilidade para reciclar o papelcartão além do padrão do mercado”, aprova Walnice Carnevale, gestora de projetos da Boomera, empresa que conecta a indústria aos coletores de resíduos. “Esse processo é um importante marco para tornar a economia circular.”
Grandes fabricantes de produtos de consumo também mantêm importantes ações de sustentabilidade. Nessa linha, a Nestlé divulgou que deseja tornar 100% de suas embalagens recicláveis ou reutilizáveis até 2025, de forma que nenhuma de suas embalagens, inclusive as plásticas, seja descartada em aterros sanitários ou lixo.
Um destaque no Paraná é o Grupo Boticário, que tem o maior programa de reciclagem de embalagens do Brasil. Há 12 anos recebe em suas lojas as embalagens vazias de produto e encaminha para cooperativas realizarem a reciclagem, gerando renda para mais de 1.000 catadores. Em alguns períodos, a troca dá direito a desconto em novas compras para os consumidores.
Empresas menores também fazem muita diferença para o meio ambiente quando se comprometem com ele. Cliente e parceira da Ibema, a Nazapack está empenhada em viabilizar a reciclagem dos copos e potes que produz. “Estamos desenvolvendo, em conjunto, um plano para conscientizar nossos clientes sobre a importância de identificar o material usado em todas as embalagens, além de separar os resíduos após o consumo e orientar sobre o descarte correto”, afirma Fernando Comparini, diretor técnico da Nazapack.
A Damp, fabricante de sorvetes paulistana que utiliza os copos da Nazapack fabricados com papelcartão Ibema, é um exemplo de empresa profundamente comprometida com a reciclagem. Em suas lojas, uma colaboradora foi destacada para fazer o preparo e seleção dos potes de sorvete, após o consumo, para serem enviados à reciclagem. Para isso, ela retira todo o excesso da sobra de sorvete, com o auxílio de um papel especial, e armazena os potes novamente nas caixas em que são recebidos.
Por meio da sintonia em torno da sustentabilidade, a Nazapack, a Damp e a Ibema, ao lado de outras empresas parceiras, projetam um trabalho conjunto para ampliar a capacidade de reciclagem e contribuir para a economia circular na prática.
Sustentabilidade
A reciclagem do papelcartão é mais um fator a contribuir com a sustentabilidade do setor de árvores plantadas, um dos que mais recicla no Brasil e no mundo. O recorde de recuperação de papel no país foi atingido em 2017, com índice de 66,2%, ou 5 milhões de toneladas de papel que foram devolvidas às fábricas para reciclagem, de acordo com dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
Esse esforço faz parte de uma cadeia circular sustentável, já que o papel é um produto biodegradável, cuja decomposição ocorre de forma natural. É importante destacar ainda que toda a produção brasileira de papel vem de árvores plantadas, ou seja, de florestas com plantio e colheitas anuais.
Renovável e sustentável, o sistema de produção das indústrias do papel inclui ainda a destinação correta dos resíduos sólidos, bem como o reaproveitamento de materiais.
Também no projeto das novas embalagens, os requisitos da sustentabilidade devem ser considerados pelos designers que, além de conhecer e aplicar os princípios básicos da sustentabilidade de embalagem, devem prever que seus projetos facilitem e incentivem a reciclagem. “Para isso, é possível usar desenhos mais clean, que utilizem menos tintas na impressão, e incluir em seu design a simbologia que identifica o material da embalagem e incentiva seu encaminhamento correto para a reciclagem”, sugere o consultor da Ibema, o designer Fábio Mestriner.
“O futuro é das embalagens que usam a quantidade suficiente de material para sua devida funcionalidade, com materiais que provenham de fontes renováveis e usem processos ecoeficientes. Mas, antes de mais nada, elas precisam ser recicláveis”, pondera o diretor técnico e de P&D da Ibema Papelcartão, Fernando Sandri. Com informações e fotografia da assessoria. Arte: Observatório Eco.