Relatório revela como as mudanças climáticas favorecem o terrorismo
Da Redação em 23 April, 2017
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Um novo relatório lançado neste mês na Alemanha mostra como os impactos das mudanças climáticas contribuem com o surgimento e crescimento de grupos terroristas, como Boko Haram e o Estado Islâmico. Elaborado pelo think-tank alemão Adelphi, o estudo “Insurreição, Terrorismo e Crime Organizado em um Mundo em Aquecimento” concluiu que as alterações do clima multiplicam e interagem com ameaças, riscos e pressões já existentes, como a escassez de recursos, o crescimento populacional e a urbanização. Segundo Lukas Rüttinger, autor do relatório, a junção desses fatores leva à fragilidade e conflitos violentos nos quais esses grupos podem prosperar.
Cada vez mais os grupos terroristas estão usando recursos naturais – como a água – como arma de guerra, controlando o acesso a ela, agravando ainda mais e exacerbando sua escassez. Quanto mais escassos os recursos se tornam, maior poder é dado àqueles que os controlam, especialmente em regiões onde as pessoas dependem particularmente dos recursos naturais para sua subsistência.
Por exemplo, ao redor do Lago Chade, as alterações climáticas contribuem para a escassez de recursos que aumentam a concorrência local por terra e água. Esta competição, por sua vez, muitas vezes alimenta tensões sociais e até conflitos violentos. Ao mesmo tempo, esta escassez de recursos erode os meios de subsistência de muitas pessoas, agrava a pobreza e o desemprego e leva ao deslocamento populacional. Grupos terroristas como Boko Haram ganham poder neste ambiente frágil.
População vulnerável
À medida que as alterações climáticas vão afetando a segurança alimentar e a disponibilidade de água e de terra, as pessoas se tornam mais vulneráveis não só aos impactos negativos do clima mas também ao recrutamento por grupos terroristas que oferecem meios de subsistência e incentivos econômicos alternativos.
“As áreas já vulneráveis podem ser colocadas em um ciclo vicioso, que torna mais fácil a operação do terrorismo, o que, por sua vez, leva ao surgimento desses grupos, com conseqüências para todos”, resume Rüttinger.
Às vezes, os grupos terroristas tentam preencher a lacuna deixada pelo Estado, fornecendo serviços básicos para ganhar apoio da população local. À medida que os impactos do clima se agravarem, alguns Estados terão que lutar cada vez mais para conseguir fornecer serviços e manter sua legitimidade.
Este relatório coincide com a ameaça da fome, da seca e da guerra sobre milhões de pessoas na região em torno do lago Chade, na África. Em 31 de março, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) aprovou uma resolução sobre essa região, onde o Boko Haram atua, a qual destacada a preocupação com a interação dos fatores que levam à crise e pedindo uma melhor colaboração entre os membros das Nações Unidas para lidar com a situação. A resolução, que também solicita que o Secretário Geral da ONU emita um relatório sobre a crise, veio depois que os embaixadores do CSNU visitaram a região recentemente.
O relatório confirma algumas das conclusões da ONU:
● Lidar com a mudança do clima, impulsionar o desenvolvimento e fortalecer os governos reduzirá a ameaça do terrorismo.
● A ação climática, o desenvolvimento, as estratégias de luta contra o terrorismo e a consolidação da paz devem ser conduzidas de forma holística e não isoladamente, como acontece frequentemente e que gera o risco de agravar cada um dos fatores.
● Melhorar o Estado de Direito e fortalecer as instituições locais ajudará a reduzir o risco que a mudança climática representa para o crescimento e crescimento de grupos terroristas, além de ser um componente essencial da adaptação e construção da paz.
● As pessoas que são vulneráveis ao recrutamento por grupos terroristas dependem frequentemente da agricultura para a sua subsistência, pelo que os esforços de desenvolvimento devem centrar-se na garantia de que esses meios de subsistência são sustentáveis diante de um clima em mudança.
● As cidades são frequentemente a válvula de pressão quando o clima, conflito e fragilidade ocorrem – a construção de cidades resilientes minimizará as chances de as tensões se derramarem.
“Uma perspectiva mais ampla ajudará a enfrentar melhor as causas do surgimento e o crescimento de grupos armados não estatais”, disse Rüttinger. Com informações da assessoria.