Ambientalistas e agricultores devem se unir para salvar a Amazônia, diz Izabella Teixeira
Da Redação em 26 March, 2017
Tuite
Em entrevista nos Estados Unidos, na cidade de Washington, a ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, fez um apelo apaixonado por uma “nova política de consenso”, pedindo aos agricultores, ambientalistas e grandes empresas que se unam na batalha para salvar a Amazônia.
Izabella Teixeira disse que proteção da rica biodiversidade do Brasil – das florestas amazônicas ao cerrado – só pode ser alcançada se antigas divisões entre meio ambiente e agricultura forem abandonadas por uma abordagem “baseada em soluções”.
Para ela, que desempenhou um papel fundamental no acordo de mudança climática de Paris, mas se retirou do Ministério, com a entrada do novo presidente Michel Temer no ano passado, os brasileiros sabem que a biodiversidade é um recurso inestimável, mas também querem o desenvolvimento agrícola e econômico.
“Isso não deve ser uma barreira, se você vê a agricultura e o meio ambiente como parceiros, não como inimigos, forja um interesse comum, desenvolve confiança e transparência”, disse ela à Fundação Thomson Reuters em entrevista (Washington DC).
“Este é um momento crucial na história do mundo: temos de fazer uma escolha política sobre o nosso país e o planeta, esta nova agenda política deve ser gerida não em divisões do passado, mas na unidade”.
O Brasil perdeu cerca de um quinto da floresta tropical amazônica nos últimos 50 anos, de acordo com o World Wildlife Fund.
Izabella Teixeira, que foi ministra do Meio Ambiente durante seis anos, disse que muitas vezes se esquece que, enquanto 130 milhões de hectares de terra estão sob proteção federal, pequenos e grandes agricultores controlam 100 milhões de hectares de terras com biodiversidade, com tensões crescentes.
União
No início deste ano, a Human Rights Watch informou que a violência rural no Brasil atingiu seus piores níveis em uma década e pelo menos 54 pessoas morreram em conflitos de terra em 2016.
Ativistas e funcionários públicos também informaram que a pressão dos interesses agrícolas neste ano levou o Brasil a parar a demarcação formal de terras para as comunidades indígenas.
Ela disse que está preocupada com o regresso aos debates separatistas do passado.
“É um grande erro, na minha opinião, polarizar todos de novo, entre o meio ambiente, de um lado, e a agricultura, por outro”, disse Teixeira, 55 anos, funcionária do Ibama, desde 1984.
“Nosso desafio não é apenas evitar o desmatamento, mas também alcançar a transparência para o sistema nacional (de conservação), mostrar quem o apóia, quem são os atores responsáveis”.
Izabella Teixeira desempenhou um papel fundamental no Cadastro Ambiental Rural, Cadastro Ambiental Rural, pioneiro no Brasil.
Este sistema torna obrigatório o registro de todas as propriedades rurais e fixa limites na proporção de vegetação natural que pode ser legalmente compensada em qualquer propriedade rural. Isso pode ser tão baixo quanto 20 por cento em algumas partes da Amazônia.
Sua implantação exigiu geo-referenciamento e identificação de milhões de limites de propriedade e, em última instância, cerca de quatro milhões de propriedades que abrangem cerca de 403 milhões de hectares virão sob os auspícios da CAR – cerca de metade do tamanho do Brasil.
Ela afirmou que a enormidade do programa de registro foi recebida com ceticismo inicialmente, mas no próximo ano – o novo prazo para registro – proprietários que não estão no CAR não vão receber financiamento bancário.
“Eu sou otimista, mas também pragmática. Não podemos cometer um erro agora, fazer a escolha errada”, disse ela.
“Claro que temos problemas políticos e econômicos. (Mas) Sei que podemos resolver os nossos problemas neste novo quadro político com a agricultura. Temos simplesmente de encontrar novas formas de unir as duas coisas”.
(Reportagem de Paola Totaro, Editado por Belinda Goldsmith, Fundação Thomson Reuters.)