A responsabilidade pelo desenvolvimento sustentável é de todos
Roseli Ribeiro em 12 July, 2015
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Durante muitos séculos o homem considerou que os recursos naturais do planeta eram inesgotáveis e estavam à sua disposição. “A compreensão de que os recursos são escassos e podem acabar, levará algum tempo, e somente será obtida através de um processo de educação que envolva a todos, tanto adultos quanto jovens e crianças”, na avaliação do professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas, Reinaldo Dias, mestre em Ciência Política e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp e especialista em Ciências Ambientais.
Em sua recente obra “Sustentabilidade: Origem e Fundamentos, Educação e Governança Global e Modelo de Desenvolvimento”, lançada pela Editora Atlas, o autor trata de todos os aspectos que envolvem o conceito de desenvolvimento sustentável e sua importância para a preservação da vida no Planeta.
Reinaldo Dias defende em entrevista exclusiva para o Observatório Eco que “a perspectiva do desenvolvimento sustentável implica não somente a educação das pessoas para o meio ambiente, mas também na busca de um modelo de desenvolvimento mais justo, mais igualitário, mais solidário, pacífico e voltado para a realização humana e convivência harmônica de todos”. Ele ressalta, ainda, que o poder público tem mais responsabilidade em mobilizar a comunidade, informar e educar em prol do meio ambiente, mas reforça que os resultados dependem de todos: empresas, organizações da sociedade civil, indivíduos, governos. O professor também trata da importância dos trabalhos das ONGs na defesa do meio ambiente e da internet como ferramenta de pressão na causa ambiental. Veja a entrevista exclusiva de Reinaldo Dias para o portal Observatório Eco.
Observatório Eco: Até agora, muitos governos, empresários e pessoas comuns não acreditam que a capacidade da Terra está no limite, nem nas consequências das mudanças climáticas, o que explica essa resistência?
Reinaldo Dias: Há dois motivos principais para essa resistência. O primeiro deles é que muitos governos, empresários e pessoas comuns se mantém num paradigma que foi o dominante nos últimos anos e em todo o século XX que considera que os recursos do planeta são inesgotáveis e estão à disposição do homem. A compreensão de que os recursos são escassos e podem acabar, levará algum tempo, e somente será obtida através de um processo de educação que envolva a todos tanto adultos quanto jovens e crianças.
Em segundo lugar, as informações sobre a capacidade da Terra e as consequências das mudanças climáticas foram obtidas através de um processo de racionalidade científica, adquirindo uma certeza incontestável que foi fruto do trabalho de um grande número de cientistas do mundo todo. Um trabalho que consagra a cooperação internacional como forma de superação de nossas dificuldades.
Assim sendo, a resistência ocorre por fruto da ignorância, do desconhecimento de uma realidade apontada pela ciência. Essa resistência está gradativamente diminuindo, pelos efeitos causados pela crise ambiental, entre elas as mudanças climáticas que são as mais perceptíveis. As catástrofes ambientais, cada vez mais frequentes, estão fazendo as pessoas questionarem o modelo de desenvolvimento atual.
Observatório Eco: Em sua recente obra, o senhor defende que o desenvolvimento sustentável não é uma opção, mas sim, a única solução. De que maneira educar as pessoas para essa ação em prol do meio ambiente?
Reinaldo Dias: A perspectiva do desenvolvimento sustentável implica não somente a educação das pessoas para o meio ambiente, mas também na busca de um modelo de desenvolvimento mais justo, mais igualitário, mais solidário, pacífico e voltado para a realização humana e convivência harmônica de todos.
Desse modo a perspectiva do desenvolvimento sustentável é integradora da diversidade humana em termos de etnia, raça, ideologia, religião etc. A própria concepção do desenvolvimento sustentável foi feita nos quadros de uma instituição, as Nações Unidas, que congrega uma enorme diversidade de nações com culturas diversas.
Educar as pessoas para agir em prol do meio ambiente, deve levar em consideração esse contexto. Qualquer ação voltada para benefício da natureza vai de encontro ao bem comum, coletivo, é a prestação de um serviço público, pode ser uma escola primária que decide discutir e agir sobre os problemas ambientais da região. Uma empresa que entende que sua responsabilidade vai além do seu negócio, e busca através de uma atuação responsável atender a comunidade afetada pela sua atividade. O indivíduo que separa o lixo reciclável em sua residência está prestando um serviço público, não está pensando somente em si, mas no bem comum. É uma mudança de cultura, de paradigma para um novo modelo de desenvolvimento.
Observatório Eco: De que forma sensibilizar os governos me prol desse caminho?
Reinaldo Dias: A melhor forma de sensibilizar os governos é a pressão da opinião pública, sem nenhuma dúvida. Os diversos atores da sociedade têm hoje em dia uma ferramenta poderosa e de baixo custo para induzirem o poder público a comportamentos ambientalmente aceitáveis, que é a internet.
Ocorre que a pressão somente não basta, não se deve transferir a responsabilidade somente às autoridades públicas. Na problemática ambiental, em particular, a responsabilidade é coletiva. Pode ser que o poder público tenha mais responsabilidade em mobilizar a comunidade, informar, educar, mas os resultados dependem de todos: empresas, organizações da sociedade civil, indivíduos, governos etc.
Observatório Eco: Quais os exemplos eficazes que o senhor pode destacar em que o discurso ambiental parte efetivamente para ações com resultados eficazes?
Reinaldo Dias: Há inúmeros exemplos tanto no Brasil quanto no resto do mundo. Notável em nosso país é o trabalho empreendido por ONGs na proteção às espécies ameaçadas de extinção, como aqueles direcionados à recuperação do: mico leão dourado, a baleia jubarte e a franca, o peixe-boi, a tartaruga marinha e a de água doce na Amazônia entre outros. Há diversos projetos desenvolvidos nas reservas privadas do patrimônio natural que constituem exemplos de sucesso de recuperação de ecossistemas.
Os secretários de meio ambiente dos estados que possuem fragmentos de Mata Atlântica assumiram o compromisso de ampliar a cobertura florestal nativa e perseguir a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2018, com o apoio da ONG SOS Mata Atlântica. O encaminhamento das questões envolvendo a questão climática vem sendo feito por coalizões de empresários e ONGs, apresentando propostas que poderão vir a auxiliar a delegação brasileira no Encontro do Clima de Paris em dezembro. O Observatório do Clima que reúne 37 ONGs apresentou proposta alternativa de metas para redução das emissões de gases de efeito estufa. Esses são somente alguns exemplos, há um incontável número de outros que formam uma rede de ações positivas voltadas para a sustentabilidade. O que todos têm em comum é a cooperação intersetorial, nenhum ator social agiu isoladamente para alcançar o objetivo.
Observatório Eco: Quais as suas propostas em relação ao desenvolvimento sustentável que são abordadas em seu novo livro?
Reinaldo Dias: O livro como um todo é voltado para apresentar propostas viáveis para o desenvolvimento sustentável. Ao mesmo tempo que mostra os problemas, aponta para alternativas de solução destes. De forma específica cada capítulo apresenta uma temática mais abrangente com conteúdo específico e apresentando soluções viáveis. São sete os capítulos, o primeiro e o segundo apresentam a essência do que é o desenvolvimento sustentável, sua evolução, seu significado, o estágio atual de sua implementação, as principais questões que fundamentarão a discussão dos capítulos seguintes. Em seguida é apresentado o histórico de construção do conceito, com os principais eventos.
O quarto e quinto capítulo apresentam as principais questões globais da sustentabilidade, discutindo alternativas para a solução dos problemas apresentados. O sexto capítulo é específico sobre a questão energética, o problema da utilização dos combustíveis fósseis, e a alternativa que se apresenta das energias alternativas, sua viabilidade e limitações.
O último capítulo é a proposta central do livro, pois a solução real do problema ambiental virá da educação para o desenvolvimento sustentável, elevando o nível de conscientização para que todos assumam suas respectivas responsabilidades e atuem em seu âmbito específico de ação.