O preço oculto de um crime contra a vida silvestre
Da Redação em 10 December, 2014
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Artigo de Mike Baker.
“A tolerância zero para o tráfico de animais silvestres”, anunciada pelo príncipe William nesta segunda-feira (08/12) em Washington (EUA), deve ser parabenizada por atacar um mercado que movimenta um valor estimado de entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano.
Muitos vêm os crimes contra o comércio ilegal de animais um problema de preservação, mas também é, claramente, um problema de bem-estar. O comércio de seres vivos provoca sofrimentos inimagináveis.
Imagine um filhote de tigre de três meses de idade dopado em uma mala. Ou 1.700 animais vivos no porta-malas de um carro. Imagine também 18 macacos zogue-zogue ameaçados de extinção colocados dentro de meias e presos ao corpo de um passageiro que tentava atravessar o controle de um aeroporto. Estes são casos reais.
Animais silvestres vão sofrer o choque de serem removidos de seus habitats, drogados e manejados pelo homem assim como passarão por situações precárias sem comida e água, às vezes por dias. Esta é a vida de milhões de animais capturados pelo comércio ilegal de animais silvestres. Estima-se que quatro de cada cinco animais silvestres morrem no transporte ou dentro de um ano após terem sido tirados de seu habitat.
Esse comércio é alimentado pelo consumismo: o status de ter um animal de estimação exótico, um troféu ou uma parte de um animal para rituais de cura. A realidade é que não podemos mais ignorar a enorme crueldade por trás do quarto crime mais lucrativo, depois das drogas, armas ou tráfico de seres humanos.
Força-tarefa
O anúncio de uma força-tarefa para combater o papel que as empresas de transporte acabam, como consequência, desempenhando neste crime contra a vida silvestre, é muito necessário. Mantendo este problema urgente na pauta global, o príncipe William vai liderar o grupo de trabalho junto do Primeiro Secretário de Estado Britânico, William Hague, que vai presidir o grupo. A ideia é juntar companhias aéreas e empresas de transporte internacional de encomendas com organizações de bem-estar e conversação. Nossa esperança é que essa ação seja uma poderosa nova frente de batalha contra o tráfico de animais silvestres, desmantelando as rotas e expondo os criminosos que estão matando e destruindo a vida silvestre do mundo.
Esforços anteriores focaram, em uma ponta da cadeia, nos caçadores, e na outra ponta nos comerciantes e consumidores. Não houve foco suficiente nas rotas e mecanismos que conectam estas duas pontas para facilitar esse comércio mortal. Até agora.
Estou orgulhoso de que a World Animal Protection tenha uma história consolidada de trabalho muito próximo das autoridades que agem contra a vida silvestre. No início deste ano, fizemos campanha para salvaguardar o futuro da Unidade de Crime contra a Vida Silvestre da Polícia Metropolitana da Inglaterra, que lidera a luta contra este tipo de crime em Londres. Com uma rede de mais de 1,7 milhões de apoiadores em todo o mundo, a organização está estendendo este trabalho contra o tráfico de animais em todo o mundo.
Números do tráfico
Alguns fatos sobre esse comércio incluem:
• Segundo o Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres), mais de 38 milhões de animais silvestres são capturados todos os anos no Brasil e 90% morrem durante a captura ou o transporte.
• 75% dos papagaios capturados no México para serem vendidos como bicho de estimação morrem antes de serem vendidos ou 31% morrem no transporte.
• Pelo menos 75% das cobras, lagartos, cágados e tartarugas morrem até um ano após serem comprados. Acredita-se que a maioria destes animais, cuja expectativa de vida varia de 8 a 120 anos, morra de causas relacionadas ao estresse do cativeiro.
• Camaleões de Madagascar sofrem mortalidade de 10% a 50% em trânsito durante o processo de importação.
• Estima-se que a população mundial de elefantes tenha se reduzido de 1,3 milhões em 1979 para 400 mil atualmente.
• A população de rinocerontes era de 500 mil no início do século 20 e se reduziu a 29 mil atualmente.
• Existem menos de 3.500 tigres no mundo. Esse número era de 100 mil 80 anos atrás.
Por Mike Baker, diretor executivo da World Animal Protection (Proteção Animal Mundial).
Para saber mais acesse o site aqui.