Gestão de recursos hídricos é um dos grandes desafios em SP
Da Redação em 22 March, 2013
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Bombear água do Vale do Ribeira para a metrópole paulistana, gerando energia na Usina Henry Borden, é parte de um projeto que expressa a contradição entre o atual sistema de gestão das águas e a busca por integrar seu múltiplos usos respeitando a geografia da região metropolitana. Especialistas de diferentes áreas apresentaram informações inéditas sobre a realidade das águas em São Paulo, no evento “Cooperação pelas Águas Paulistanas”, realizado na Sala Crisantempo (SP).
Com organização do Instituto 5 Elementos – Educação para a Sustentabilidade, Instituto Trata Brasil, Instituto Vitae Civilis e Associação Águas Claras do Rio Pinheiros, o encontro teve como objetivo colocar o tema na pauta de jornalistas, professores, representantes de governo e sociedade civil, considerando-se a gestão das águas como elemento essencial ao desenvolvimento urbano.
Sérgio Aymoraes, superintendente adjunto de planejamento da Agência Nacional de Águas (ANA), mostrou que o Brasil vive estresse hídrico em rios do Nordeste, nas regiões metropolitanas e na região Sul, neste caso devido à demanda para irrigação. Somente a região Sudeste deve receber investimentos de 7,4 bilhões de reais para garantir a oferta de água para a população urbana até 2015. E se os grandes centros já convivem com o esgotamento das fontes locais, São Paulo só terá seu abastecimento garantido caso integre soluções entre todos os municípios da macrometrópole.
Para Renato Tagnin, professor do SENAC, hoje o sistema de distribuição de água na RMSP permite administrar situações de escassez, mas tem equilíbrio delicado caso um dos mananciais venha a faltar. “O desafio não é só expandir o sistema, mas é de gestão, evitando ocupar áreas preservadas na periferia, pois estaríamos eliminando a possibilidade de fornecimento de água pela própria natureza”, destacou Renato. Ele também vê grande dificuldade de acesso às informações sobre o sistema de abastecimento da região.
Opinião compartilhada por Nina Orlow, da Rede Nossa São Paulo, que trabalha com foco nas políticas públicas para as quais a gestão das águas é essencial: “a água transversaliza vários eixos da cidade, como mobilidade, saúde e bens naturais, mas não estamos tendo acesso a informações sobre como são priorizados os investimentos, quem paga e quanto pelo tratamento de esgoto, como a cobertura de abastecimento deve ser universalizada até 2018”.
A Rede Nossa São Paulo monitora o Plano de Metas da atual prefeitura e defende maior descentralização das políticas públicas. “A atual administração pública não é compatível com uma visão de sustentabilidade, as subprefeituras têm papel de “zeladoras” e não de gestoras de políticas, só a regional da Lapa atende uma população de mais de 300 mil pessoas”, expressou Cyra Malta, assessora técnica da subprefeitura da Lapa.
A cidade possui recursos naturais que ninguém vê, como a enorme quantidade de rios soterrados pela urbanização e enfocado no trabalho educativo do movimento Rios e Ruas. “A cada 200 metros encontramos um manancial em São Paulo, mas a ocupação desordenada não permite a visão desses rios ocultos que permanecem vivos. O Jardim Botânico deveria servir de exemplo para outros espaços, pois em menos de um ano conseguiu a reabertura da galeria por onde hoje corre um rio a céu aberto”, contou Luiz Campos Junior, do movimento.
Há de fato múltiplos usos da água apontando para sistemas mais eficientes e ambientalmente amigáveis, como o projeto do hidroanel metropolitano, apresentado pelo coordenador do Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transporte e Meio Ambiente (IDELT), Frederico Bussinger. São mais de 8,6 mil quilômetros de rios navegáveis no Estado e, se hoje 41 quilômetros já são utilizados para transporte na região metropolitana, o especialista vê potencial para se chegar a até 180 quilômetros navegáveis. “Mais de 50% das emissões de gases do efeito estufa em São Paulo vêm do transporte rodoviário, enquanto poderíamos investir no transporte limpo por meio do rio”, destacou Frederico.
Neste caso, faltam instrumentos na própria administração pública para implantação do projeto. “É um dos modais que mais cresce no mundo, basta olhar para a experiência europeia, em que há em torno de 10 mil quilômetros de canais sendo implantados. Mas para isso, existem agências de uso múltiplo, para além de uma visão setorizada”, enfatizou.
Para o coordenador de Mobilização da SOS Mata Atlântica, Beloyanis Monteiro, se cada organização, grupo social e cidadão fizer sua parte é possível avançar na gestão das águas da cidade, independentemente da dependência do setor público. Opinião compartilhada por José Bueno, um dos responsáveis pelo Rios e Ruas: “o movimento de sair para caminhar na beira do rio parece simples perto de outros projetos de grande investimento, mas trata-se uma forma poderosa de fazer política, revalorizando a natureza e fazendo emergir o debate sobre a cidade que queremos”. Com informações da assessoria.