Confirmada a descoberta de um novo anfíbio na Mata Atlântica
Da Redação em 2 August, 2012
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Uma nova espécie de anfíbio anuro (rãs, pererecas e sapos) foi descoberta na Reserva Natural Salto Morato (PR), localizada no bioma Mata Atlântica, o mais ameaçado no Brasil. O Brachycephalus tridactylus foi encontrado em fevereiro de 2007 e, em junho deste ano, foi oficialmente declarado como uma nova descoberta no artigo da revista internacional Herpetologica.
O estudo que originou a descoberta foi realizado pelo biólogo Michel V. Garey e recebeu apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza por meio de parceria com o Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação (PPGECO) da Universidade Federal do Paraná.
O objetivo da pesquisa foi comparar a anurofauna (diversidade de rãs, pererecas e sapos) de três diferentes estágios sucessionais de vegetação (Capoeira, Capoeirão e Mata primária) da Floresta Atlântica da Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba-PR, criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário. No total, foram registradas 42 espécies pertencentes a nove famílias. Porém, cinco delas foram encontradas em outros ambientes que não fizeram parte da amostragem e nesse grupo está o sapo Brachycephalus tridactylus.
Essa nova espécie que só ocorre no alto da Reserva Natural Salto do Morato (acima de 900 m de altitude) é caracterizada por possuir coloração alaranjada, pequeno tamanho (menor que 1,5 cm) e apenas três dedos nos membros anteriores, por isso do nome B. tridactylus (três dedos). Para Michel V. Garey, essa descoberta é muito importante. “Primeiramente porque avança no conhecimento dos anfíbios no Brasil. Outro ponto importante é que essa espécie ocorre na Mata Atlântica, bioma extremamente ameaçado pelo desmatamento”, explica.
No mundo, existem mais de seis mil e setecentas espécies de anfíbios. O Brasil é o país com maior diversidade de anfíbios do mundo. Estima-se que o país tenha cerca de 946 espécies, sendo que no Paraná são conhecidas mais de 120 espécies de anuros. Apesar desta grande diversidade, tem-se pouca informação sobre eles. De acordo com o pesquisador Michel V. Garey, esta é uma das grandes dificuldades em se pesquisar os anfíbios anuros. “Não conhecemos quase nada sobre os hábitos dessas espécies, que inclusive podem ter muita importância, até mesmo farmacológica, e que nós desconhecemos”, afirma.
Mudanças Climáticas
Não se sabe ainda qual efetivamente é a influência das mudanças climáticas para os anfíbios, pois este fenômeno ainda é recente e pouco estudado. “Esta espécie, por exemplo, ocorre no topo dos morros onde o clima é mais ameno e mais úmido. Com o aumento da temperatura, ela pode não ter para onde ir, pois não existem lugares mais frios para ela se mudar”, afirma Garay.
“Estamos observando um declínio global dos anfíbios por diversos motivos: poluição da água e do solo, desmatamento, aumento da radiação ultravioleta, doenças, fungos, vírus, enfim, precisamos preservar os locais onde eles ocorrem e estudar seus hábitos”, ressalta Garey.
Descobertas em Salto Morato
Brachycephalus tridactylus é a segunda nova espécie descoberta na Reserva Natural Salto Morato. Em 1994, os pesquisadores Mário de Pinna e Wolmar Wosiacki encontraram a espécie de peixe Listrura boticario durante projeto apoiado pela Fundação Grupo Boticário. O artigo que descreve o peixe foi publicado em 2002. Esta espécie, do grupo dos siluriformes, o mesmo ao qual pertencem os bagres, pintados e mandis, foi descrita com base em um único exemplar encontrado em uma poça marginal a um rio de corredeira na Floresta Atlântica, na Reserva Natural Salto Morato.
Em seus 2.253 hectares, a Reserva Natural Salto Morato protege a rica biodiversidade e também tem um centro de pesquisas com alojamento e laboratório para oferecer suporte aos pesquisadores. Mais de 80 pesquisas já foram realizadas no local, incluindo teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias de especialização, em assuntos diversos como biologia e ecologia de espécies de fauna e flora, análise do manejo da Reserva, visitação, trilhas, ecoturismo, bem como os que diretamente embasam as ações de manejo do patrimônio natural da Reserva.
Por meio das iniciativas de conservação da natureza apoiadas pela Fundação Grupo Boticário, dentro da Reserva Natural Salto Morato e em diversas outras regiões do Brasil, já foi possível descrever mais de 40 novas espécies de animais e plantas. Em 21 anos de atuação, US$ 11.7 milhões foram doados para 1.306 iniciativas de 456 instituições de todo o país.