ONU lança o IRI, um novo índice de sustentabilidade
Da Redação em 20 June, 2012
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A fixação do mundo no crescimento econômico ignora um esgotamento rápido e em grande parte irreversível dos recursos naturais que irá prejudicar seriamente as gerações futuras, de acordo com um relatório que lança um novo indicador voltado para incentivar a sustentabilidade – o Índice de Riqueza Inclusiva (IRI).
O IRI, que vai além dos parâmetros econômicos e de desenvolvimento tradicionais do Produto Interno Bruto (PIB) e do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para incluir uma ampla gama de ativos como o capital manufaturado, humano e natural, mostra aos governos a verdadeira situação da riqueza das suas nações e a sustentabilidade de seu crescimento.
O indicador foi divulgado no Relatório de Riqueza Inclusiva 2012 (IWR na sigla em inglês), uma iniciativa conjunta lançada na Rio+20 pelo Programa Internacional de Dimensões Humanas sobre Mudança Ambiental Global (UNU-IHDP, na sigla em inglês) organizado pela Universidade das Nações Unidas e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O relatório observou as mudanças na riqueza inclusiva em 20 países, que juntos representam quase três quartos do PIB mundial, de 1990 a 2008.
Apesar de registrar crescimento do PIB, China, Estados Unidos, África do Sul e Brasil aparecem com tendo esgotado significativamente seu capital base natural, a soma de um conjunto de recursos renováveis e não renováveis, como combustíveis fósseis, florestas e pesca.
Durante o período avaliado, os recursos naturais per capita diminuíram em 33% na África do Sul, 25% no Brasil, 20% nos Estados Unidos e 17% na China. Das 20 nações pesquisadas, somente o Japão não sofreu diminuição do capital natural, devido a um aumento da cobertura florestal.
Se medido pelo PIB, que é o indicador mais comum para a produção econômica, as economias da China, Estados Unidos, Brasil e África do Sul cresceram respectivamente 422%, 37%, 31% e 24% entre 1990 e 2008.
No entanto, quando seu desempenho é avaliado pelo IRI, as economias chinesas e brasileiras aumentaram apenas 45% e 18%. Os Estados Unidos cresceram apenas 13%, enquanto a África do Sul teve um decréscimo real de 1%.
O relatório se concentra na sustentabilidade das bases de recursos atuais e não analisa o resto dos séculos 19 e 20, quando muitos países desenvolvidos, seguindo um caminho de crescimento acelerado, podem ter esgotado o capital natural.
“Rio+20 é uma oportunidade para abandonar o Produto Interno Bruto como medida de prosperidade no século 21 e como barômetro de uma transição para uma Economia Verde inclusiva, não serve para medir o bem-estar humano, ou seja, as muitas questões sociais e a situação dos recursos naturais de uma nação”, disse o subsecretário geral e diretor executivo do PNUMA, Achim Steiner.
“O IRI faz parte de uma gama de substitutos potenciais que líderes mundiais podem levar em conta como forma de dar mais precisão à avaliação da geração de riqueza para concretizar o desenvolvimento sustentável e erradicar a pobreza”, acrescentou.
A contabilização da riqueza, o conceito que está por trás do IRI, elabora um balanço para as nações e mostra aos países onde sua riqueza se encontra. Levando em conta uma grande variedade de ativos de capital que uma nação tem à sua disposição para garantir o bem-estar da sociedade, ele apresenta uma visão mais abrangente e informa aos formuladores de políticas sobre a importância de manter o capital base da nação para as gerações futuras.
“O IWR representa o primeiro passo fundamental na mudança do paradigma econômico global forçando-nos a reavaliar nossas necessidades e objetivos como sociedade” disse o Professor Anantha Duraiappah, diretor do relatório IWR e diretor executivo do UNU-IHDP. “Oferece uma estrutura rigorosa de diálogo com várias bases eleitorais que representam os campos ambientais, sociais e econômicos”.
A importância em cuidar de todo o leque de bens de capital de um país torna-se particularmente evidente quando o crescimento populacional é levado em conta.
Quando a mudança da população é incluída para examinar o IRI numa base per capita, quase todos os países analisados mostraram um crescimento significativamente menor. Esta tendência negativa deve provavelmente continuar em países que apresentam atualmente um elevado crescimento da população, como Índia, Nigéria e Arábia Saudita, se não forem tomadas medidas para aumentar o capital base ou diminuir o crescimento da população.
O IWR apresenta a riqueza inclusiva de 20 nações: Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Equador, França, Alemanha, Índia, Japão, Quênia, Nigéria, Noruega, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, EUA, Reino Unido e Venezuela.
Os países selecionados representam 56% da população mundial e 72% do PIB mundial, incluindo economias de alta, média e baixa renda em todos os continentes. Alguns países foram escolhidos com base na hipótese de que o capital natural é particularmente importante para a sua base produtiva – como no caso do petróleo no Equador, Nigéria, Noruega, Arábia Saudita e Venezuela; ou minérios em países como o Chile e florestas no Brasil.
Principais conclusões do relatório
•Enquanto 19 dos 20 países sofreram declínio no capital natural, seis também observaram declínio na sua riqueza inclusiva, colocando-os em uma faixa insustentável: Rússia, Venezuela, Arábia Saudita, Colômbia, África do Sul e Nigéria foram os países que não conseguiram crescer. Os outros 70% dos países mostram crescimento do IRI per capita, indicando sustentabilidade.
•O alto crescimento populacional em relação ao crescimento do IRI criou condições insustentáveis em cinco dos seis países mencionados acima. A falta de crescimento da Rússia é devida em grande parte a uma queda no capital manufaturado.
•Descobriu-se que 25% dos países que mostraram uma tendência positiva quando medido pelo PIB per capita e pelo IDH, computaram IRI per capita negativo. O principal impulsionador da diferença de desempenho foi o declínio no capital natural.
•Com exceção da França, Alemanha, Japão, Noruega, Reino Unido e Estados Unidos, todos os países pesquisados têm uma maior participação do capital natural em relação ao capital manufaturado, o que destaca sua importância.
•O capital humano tem aumentado em todos os países e é a forma de capital eleita para compensar a diminuição do capital natural na maioria das economias.
•Há sinais claros de permuta entre as diferentes formas de capital.
•Inovação tecnológica e/ou ganhos de capital com petróleo (devido ao aumento dos preços) superam o declínio do capital natural e os danos das mudanças climáticas, fazendo com que uma série de países – Rússia, Nigéria, Arábia Saudita e Venezuela – passem de uma trajetória insustentável para uma sustentável.
•As estimativas de riqueza inclusiva podem melhorar significativamente com melhores dados sobre as reservas de capital natural, humano e social e seus valores para o bem-estar humano.
Recomendações
Apesar de a riqueza inclusiva ter aumentado na maioria dos países, o relatório mostra que um exame do capital natural é fundamental para os formuladores de políticas.
Embora uma redução do capital natural possa ser compensada pelo acúmulo de capital manufaturado e humano, que são reproduzíveis, muitos recursos naturais, como petróleo e minérios, não podem ser substituídos.
Consequentemente, faz-se necessária e urgente no âmbito das discussões sobre o desenvolvimento econômico, uma definição mais inclusiva da riqueza, a fim de garantir um legado para as gerações futuras.
O relatório, que será produzido a cada dois anos, faz ecomendações específicas
•Países que observam retornos decrescentes no capital natural devem investir em capital natural renovável para melhorar o seu IRI e o bem-estar dos seus cidadãos. Exemplos de investimentos incluem reflorestamento e biodiversidade agrícola.
•As nações devem incorporar o IRI nos ministérios de planejamento e desenvolvimento para incentivar a criação de políticas sustentáveis.
•Os países devem acelerar o processo de transição de uma estrutura contábil baseada em renda para uma estrutura contábil de riqueza.
•As políticas macroeconômicas devem ser avaliadas com base no IRI, em vez do PIB per capita.
•Governos e organizações internacionais devem estabelecer programas de pesquisa para calcular os principais componentes do capital natural, particularmente ecossistemas.
O subsecretário-geral e reitor da Universidade das Nações Unidas, professor Konrad Osterwalder, concluiu que o uso do IRI salvaguardaria os interesses de muitos países em desenvolvimento.
“Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) têm funcionado como uma importante ferramenta para centralizar a atenção internacional e as ações em torno das principais e mais prementes questões globais”, disse ele. “Com a rápida aproximação de 2015, prazo para o cumprimento dos ODMs, fica claro que as oportunidades para muitos países em desenvolvimento alcançarem seus objetivos podem estar comprometidas se forem mantidas as taxas de declínio atuais de vários serviços fundamentais do ecossistema”.
Para inverter esse declínio, precisamos de uma estrutura contábil do capital natural que leve em consideração o valor dos serviços do ecossistema com relação à riqueza das nações”, acrescentou. “A ideia é que se tivermos mais capacidade de ter consciência do nosso capital natural, estaremos mais propensos a protegê-lo”.
“Com o Relatório de Riqueza Inclusiva temos uma nova medida de progresso econômico que inclui o capital natural. Idealmente, de agora em diante, será essencial que os organismos nacionais e internacionais façam uso da riqueza inclusiva per capita como parâmetro para medir o progresso econômico. Agradeço a todos aqueles que estiveram envolvidos na elaboração deste relatório inovador que pode desempenhar um papel importante na promoção da mudança para uma economia verde”, concluiu.
Avaliações
Enquanto a maioria das economias analisadas no Relatório de Riqueza Inclusiva 2012 e o mundo de modo geral têm observado taxas de crescimento econômico positivo, um olhar mais amplo para o capital base indica que isso só foi conseguido a elevados custos físicos. Essas despesas devem ser refletidas no balanço das Nações”, disse o Dr. Pablo Muñoz, diretor científico do IWR, do UNU-IHDP.
“Um aumento na riqueza total não indica necessariamente que as gerações futuras poderão consumir tanto quanto atualmente; na medida em que população cresce, cada forma de capital fica mais diluída na sociedade”, disse Sir Partha Dasgupta, professor emérito de economia em Cambridge e conselheiro científico do IWR. Com informações da ONU.