Rio + 20, o mundo precisa ir além dos rótulos
Roseli Ribeiro em 18 March, 2012
Tuite
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio + 20, acontece no Brasil em junho na cidade do Rio de Janeiro, e quer responder uma pergunta ambiciosa, afinal qual “O futuro que queremos?” para os próximos vinte anos? Para guiar esse encontro, a ONU preparou o documento base indicativo do futuro comum da humanidade, o Draft Zero, que ainda será debatido pelas nações participantes da convenção.
Tendo como eixo principal, a Economia Verde e o Desenvolvimento Sustentável para a Erradicação da Pobreza, o Draft Zero não tem conseguido agradar aos gregos e troianos. Para conhecer mais sobre essas propostas e buscar uma visão crítica do tema, o Observatório Eco entrevista Rubens Harry Born, diretor da ONG, Vitae Civilis.
Na avaliação do diretor do instituto, “o desafio é ir além dos rótulos”. Passados vinte anos da Rio-92 e da disseminação dos conceitos de desenvolvimento sustentável na Agenda 21, as questões importantes pouco avançaram. “Esta mais que na hora fazer o ‘pilar’ da economia servir e respeitar os limites da integridade do ‘pilar’ ambiental e gerar os benefícios, direitos e justiça do ‘pilar’ social do desenvolvimento social”, alerta o especialista.
De acordo com Rubens Harry Born, o Instituto Vitae Civilis espera que nessa Convenção, os países participantes sejam capazes de assumirem claramente metas, no curto prazo (2015), médio (2020) e longo (2030 e 2050). “Os objetivos e razões para o desenvolvimento sustentável já foram declarados e redeclarados desde a Rio-92: falta implementação”, completa.
Observatório Eco: Qual a sua avaliação da proposta brasileira enviada à ONU como contribuição para as discussões da Rio + 20? Quais são os pontos positivos e negativos deste documento?
Rubens Harry Born: Trata-se de um documento genérico, aquém da expectativa sobre o papel ousado e de protagonismo que o Brasil, por ser anfitrião da Conferencia, poderia ter.
É quase omisso em relação a energias renováveis, agenda 21, e outros pontos. Desconhece os limites ambientais, no Brasil e no mundo.
Como pontos positivos, podemos apontar que reconhece necessidade de fortalecer papel dos Estados e das políticas regulatórias, da participação, e da erradicação da pobreza. Mas falta indicar os meios de implementação e metas claras.
Observatório Eco: O conceito de desenvolvimento sustentável já está exaurido como uma bandeira para uma reunião deste porte?
Rubens Harry Born: Não. Há vários conceitos, dependendo de quem os formula. A convenção Rio+20 foi convocada tendo o desenvolvimento sustentável como referencia, e os temas de governança e de economia verde como instrumentais para se lograr o desenvolvimento sustentável.
Não obstante, a crise financeira, a inércia cultural política e econômica ainda fazem vigorar as concepções clássicas de crescimento e desenvolvimento, sem trazer para o mainstream os desafios da sustentabilidade.
Observatório Eco: O conceito da moda é a expressão economia verde, ou seja, é um modismo passageiro, ou traz efetiva contribuição para um perfil de uma nova economia realmente a ser adotada pelas multinacionais e governos?
Rubens Harry Born: Modismo ou não, é a expressão que está nos documentos da ONU. Entre os vários pontos de vista, há uma gradiente enorme: desde aqueles que tomam como oportunidades de se ampliar a ecoeficiência, (algo necessário), mas sem alterar o modelo e sistema de desenvolvimento, até os que não toleram a expressão por entendê-la como uma nova etapa do capitalismo.
O desafio é ir além dos rótulos, e verificar que passados 20 anos da Rio-92 e da disseminação dos conceitos de desenvolvimento sustentável na Agenda 21, esta mais que na hora fazer o “pilar” da economia servir e respeitar os limites da integridade do “pilar” ambiental e gerar os benefícios, direitos e justiça do “pilar” social do desenvolvimento social…
Enfim, há que se escapar da armadilha e da discussão superficial qual é o rotulo mais adequado, economia verde ou nova economia, e se discutir o seu escopo, qual seja, como se altera sistema de produção, consumo e distribuição de riqueza, a que custo, quem paga, e outros pontos relevantes.
Observatório Eco: Os poucos avanços nas COPs sobre clima já não demonstram que a agenda ambiental tem pouca força como um condutor de mudanças governamentais em prol de uma qualidade de vida melhor para o Planeta? E no Planeta?
Rubens Harry Born: O pouco avanço demonstra o quanto os governos e as empresas hegemônicas ainda resistem à agenda ambiental, a qual ganha cada vez mais força na sociedade.
A mobilização publica para a Cop15 em Copenhague foi fator de pressão para que governantes lá estivessem. Sim, as forças econômicas do BAU – business as usual – ainda predominam, mas a agenda ambiental tem tido mais visibilidade.
Observatório Eco: Se o instituto Vitae Civilis pudesse fixar um padrão de conduta ambiental para os governos que participam da Convenção Rio +20, o que defenderia e por quê?
Rubens Harry Born: Queremos clareza de metas, no curto prazo (2015), médio (2020) e longo (2030 e 2050), com indicação dos meios, inclusive financeiros, responsabilidades, e outros.
Os objetivos e razões para o desenvolvimento sustentável já foram declarados e redeclarados desde a convenção Rio-92. Falta implementação!
Para saber mais sobre a avaliação do Instituto Vitae Civils, acesse aqui.
Denis Leão, 12 anos atrás
Olá, Observatório ECO!
Há estudos que demonstram que os poderes de decisão, recursos e benefícios ainda estão centralizados no governo central (Líderes mundiais) e que os atores locais (dentre eles, o Brasil), que recem as novas responsabilidades, geralmente não têm poder, mas tem representatividade.
Há muitos desacordos em relação a distribuição de autoridade e responsabilidades (poder oficial e real).
Parabens a todos da ECO.
Abraços,