Sacolas plásticas: responsabilidade ambiental ou terceirização de custos?
Da Redação em 4 February, 2012
Tuite
Artigo de Fabrício Pessato Ferreira.
No dia 26 de janeiro, as sacolas plásticas deixaram de serem distribuídas gratuitamente nos supermercados. Um acordo celebrado – no duplo sentido – entre a Associação Paulista de Supermercados (APAS) e o Governo do Estado de São Paulo. Apesar do discurso em prol do meio ambiente e sustentabilidade, algumas questões ficaram de fora do debate, imagina-se, deliberadamente.
Em primeiro lugar, o discurso de que as sacolas plásticas eram apenas depositadas no lixo é controverso. A maioria dos consumidores as usava como suporte nas lixeiras domésticas em cozinhas e banheiros, e não as atirava diretamente incrementando os resíduos sólidos nos aterros sanitários. Com o fim da distribuição gratuita, os supermercados passarão a ganhar três vezes: (1) deixarão de incorrer no custo de confecção das sacolas que outrora eram distribuídas gratuitamente; (2) aumentarão as vendas de sacos para lixeiras domésticas, que certamente terá peso maior nas compras dos consumidores; (3) passarão a faturar com a venda de sacolas retornáveis e biodegradáveis.
O segundo ponto diz respeito à efetividade da redução de resíduos sólidos no meio ambiente. Como as sacolas plásticas eram utilizadas como suporte para lixo doméstico, o fim de sua circulação poderá não representar redução de depósito do lixo sólido no meio ambiente: serão substituídas pelos sacos plásticos pagos. Pior: estas costumam ter maior densidade, além de maiores dimensões, o que na prática teria o efeito inverso de aumentar o volume de resíduos sólidos lançados nos aterros sanitários.
Um terceiro aspecto diz respeito às sacolas biodegradáveis. O jornal britânico “The Independent” publicou no dia 27 de fevereiro de 2011 um estudo mostrando que as sacolas plásticas são menos poluentes do que as biodegradáveis. Estudo semelhante realizado em dezembro de 2011 pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) reprovou em testes de laboratórios as sacolas biodegradáveis, atestando que estas têm o mesmo percentual de polímeros nocivos ao meio ambiente do que as sacolas plásticas. Logo, as sacolas biodegradáveis não cumprem o que prometem e, o que é pior, induzem os consumidores à equivocada sensação de que estão tomando a atitude ambientalmente correta.
A quarta questão diz respeito ao direito do consumidor. Apesar de terem adotado uma postura solidária a proposta, muitos não se atentaram para o fato de que acabaram “recebendo uma conta a mais a pagar”. Ao comprar uma sacola retornável, estão pagando por algo que antes era oferecido gratuitamente. E mesmo que o custo seja baixo, imagine se um consumidor não planejava ir ao supermercado em determinado dia e acabou tendo de passar para comprar alguns itens: terá de arcar com o custo de outra sacola retornável ou biodegradável – ou contar com a sorte de encontrar uma caixa de papelão, que já se tornou um artigo escasso. Assim, os supermercados efetivamente conseguiram terceirizar um custo que tinham, sob a bandeira da responsabilidade ambiental.
Enfim, a medida, apesar de ter aparentes boas intenções, na prática se tornou mais uma bandeira de campanha política de um lado e de possibilidade de lucro extra de outro. A questão ambiental no que diz respeito à decomposição de resíduos sólidos na natureza é muito mais complexa. Deve passar por um amplo programa de educação para coleta seletiva, por isenções fiscais às empresas especializadas em reciclagem e reutilização de lixo orgânico, chegando até o estabelecimento de metas para redução das áreas de aterros sanitários. Embora o engajamento da sociedade nessa campanha possa surtir algum efeito, os resultados serão pífios em relação ao tamanho do problema ambiental.
Fabrício Pessato Ferreira, mestre em economia e coordenador dos cursos de Gestão Financeira e Ciências Contábeis da Veris IBTA Metrocamp, faculdade do Grupo Ibmec Educacional.
(As opiniões dos artigos publicados no site Observatório Eco são de responsabilidade de seus autores.)
Eduardo Basílio, 12 anos atrás
Muito boa obsevacao do Fabricio. Nem tudo e o que parece ser. A sociedade precisa entender de vez que, a questao ambiental e uma moeda politica/economica como as outras(saude, educacao, infraestrutura, etc) e observar que por de tras das noticias e atos bem intencionados, sempre poder haver interesses que sao disfarcados ou camuflados das mais variadas maneiras. A visao critica nunca deve ser abandonada, por mais bem intensionada que seja a acao ou proposicao. E o consumidor deve ter sempre preservado sua liberdade de escolha.
Fabia, 12 anos atrás
Apesar da ousadia em escrever um texto que caminhe na contramão do que se fala atualmente discordo totalmente da visão do autor. Acredito que ele utilizou uma ótica de embasamento mais economica e se esqueceu de observar o lado social. A idéia em banir sacolas plásticas do comércio em geral, de acordo com o que estudo e leio por ai, vem da possibilidade de se reduzir algo que supre necessidades imediatas, mas que acaba por exigir de modo desnecessário matéria prima e gerando resíduos de difícil decomposição. Assim traca-se o descarte, pelo reuso de sacolas retornáveis. Banir as sacolas plásticas vem como um ato extremo para forçar todos da sociedade a participarem da temática ambiental, que muitas pessoas ouvem, acham importante mas não fazem nada para participar, não têm ação, preferem o comodismo. As sacolas biodegradáveis não são em muitos casos boas opções, e realmente exigem recursos naturais e poluem também se forem incorretamente descartadas, mas vem como uma alternativa aos distraidos, esquecidos ou aos conservadores. Apesar de que em minha opinião não deveria haver nem ao menos essa opção. O lucro para o comércio vai vim sim, sem sombras de dúvidas, mas se pensarmos da forma com o que o autor pensa não iremos agir em prol das iniciativas ambientais pensando: “só a empresa vai ganhar, e eu vou ter que pagar por isso?”. Os resultados para a sociedade vêm em longo prazo, e toda atitude ambiental que tivermos a partir de agora virá a longo prazo. Gosto de usar o exemplo: um professor meu disse uma vez: “o fabricante do Confort teve uma grande sacada ao criar a opção concentrada, já imaginaram o quanto que eles irão economizar com água?” Se irão ou não ganhar com economias isso é do interesse único e exclusivo do fabricante,e é até bom pois mais iniciativas boas virão. O que nos importa é que como cidadãos teremos o benefício de ter os nossos recursos naturais preservados. Devemos deixar de ser egoistas e até mesmo incoerentes, pensando que somente o que compramos é nosso, nossa casa, nosso carro. Nosso bem maior é o ar, a água, a natureza e a higiene do nosso planeta, nossa casa maior.