A nova Lei do lixo

em 24 February, 2011


Artigo de Ana Echevenguá.

Entrou em vigor no Brasil a Lei 12.305/2010, que trata da política nacional dos resíduos sólidos. Mas, como tantas outras leis, esta corre o risco de não sair do papel.

Digo isso porque um de seus dispositivos, que ordena que a “disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos” seja implantada até o dia 02 de agosto de 2014, coloca em dúvida sua aplicabilidade.

Primeiro, porque não há previsão de penalidade para o caso de descumprimento deste prazo. Nem na referida lei nem no Decreto Federal 7.404/2010 que a regulamenta.

E, segundo, porque vivemos no país dos lixões. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apurou, através da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008, divulgada em agosto de 2010, que apenas 50,8% dos municípios brasileiros dão destinação final adequada aos resíduos sólidos. E que somente 27,7% usam prioritariamente os aterros sanitários.

Ou seja, o lixão está arraigado à cultura brasileira. Todos querem o lixo distante da porta de sua casa, mas não se preocupam com a destinação dada a esse.

Assim, a nova lei não ajuda muito na aplicabilidade e eficácia da política dos resíduos no cotidiano dos brasileiros. Inicialmente, tudo vai girar em torno de estudos, elaboração de planos de gerenciamento, coleta de dados, sem grandes avanços quanto à destinação final ambientalmente correta, que é o grande problema que vivenciamos.

A questão enfática da nova regra recai na obrigação denominada de ‘logística reversa’ que obriga – no papel – os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de alguns produtos à implantação de métodos que viabilizem o retorno após o consumo.

Mas a forma e os prazos para a implementação dessa logística dependerá de acordos setoriais, regulamentos específicos ou termos de compromisso firmados entre o setor privado e o Poder Público. Para isso, será criado o Comitê Orientador para Sistemas de Logística Reversa, composto pelo Ministério do Meio Ambiente, da Saúde, do Desenvolvimento, da  Agricultura e da Fazenda.

A questão da reciclagem recaiu em meras exigências de criação de programa de melhoria de condições de trabalho e de inclusão socioeconômica dos catadores e recicladores.

Um ponto chama a atenção e merece ser divulgado. Quem realmente poderá ser penalizado com essa nova lei é o consumidor. Ele terá que acondicionar adequadamente os resíduos reutilizáveis e recicláveis, quando da implantação do sistema de logística reversa ou de coleta seletiva. E, para garantir o cumprimento dessa obrigação, o Decreto prevê multa de R$ 50,00 a R$500,00.

Quanto à responsabilidade do Poder Público, a lei exige  elaboração de planos de gestão estratégica dos resíduos e o decreto limita-se a impor que o sistema público de limpeza urbana e manejo de resíduos estabeleça a separação entre resíduos secos e úmidos. E que,  progressivamente, passe a exigir a separação de resíduos secos em função de sua natureza (plástico, papel, vidro…).

É importante reconhecer que se trata de uma medida bem intencionada; mas dificilmente atingirá seu objetivo: a correta destinação dos resíduos que produzimos diariamente. Nosso arcabouço jurídico é projetado por lobistas que defendem os interesses de seus clientes. E, neste caso, não estão contemplados os reais interesses da sociedade brasileira.

Ana Echevenguá, advogada ambientalista.

(As opiniões dos artigos publicados no site Observatório Eco são de responsabilidade de seus autores.)

 




2 Comentarios

  1. Tweets that mention A nova Lei do lixo « Observatório Eco -- Topsy.com, 13 anos atrás

    [...] This post was mentioned on Twitter by FLAVIO ARAUJO and Fernanda Stang, Observatório Eco. Observatório Eco said: Novo artigo: A nova Lei do lixo http://tinyurl.com/4gz2zy9 [...]

  2. josé Emanuel da Silva Pinto, 13 anos atrás

    Lixo ou resíduo é uma questão de mais educação!!!
    É importantíssimos termos ciência exata que convencer os poderes para atender a necessidades da coletividade é mera fantasia, reconhecer que se trata de uma questão de saúde pública; e, traz uma moderação na questão dos gastos público: também traz a diminuição dá agressão ao meio ambiente e melhora a consciência ecológica da população. Esse embrulho político, e de interesse comercial prejudica o planeta. Esta na hora de termos um olhar para o futuro, o vamos se deplorar por ter deixado de fazer a coisa certa no momento adequado.


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