Renda para proteger a floresta é insuficiente, diz estudo do BID
Da Redação em 30 January, 2011
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Agricultores da América Latina e do Caribe terão perdas de bilhões de dólares em suas receitas nas duas próximas décadas se for instituída uma proibição total do desmatamento, o que destaca a necessidade de ações compensatórias para aliviar a pobreza nas áreas rurais afetadas, de acordo com novo estudo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O estudo também diz que uma proibição do desmatamento teria um impacto insignificante sobre os preços dos alimentos.
Os países menores da América Central e Caribe, com menos alternativas econômicas dentro e fora da agricultura, sofreriam de maneira desproporcional com a proibição, enquanto países maiores e mais diversificados, como o Brasil, podem acabar se beneficiando com essa medida, de acordo com o estudo “Agriculture Greenhouse Emissions in Latin America and the Caribbean” (em inglês).
“Nosso estudo apoia outros estudos empíricos que indicam que a renda potencial que as populações pobres rurais poderiam receber pela proteção da floresta é muito menor que a renda que costumam obter desmatando a terra para plantar”, disse Eirivelthon Lima, Economista de Recursos Naturais do BID, que coordenou o estudo ao lado de Stephen A. Vosti, economista da Universidade da Califórnia, Davis. “Uma proibição total do desmatamento nos trópicos da América Latina e do Caribe exigiria, portanto, políticas compensatórias para tornar a proibição viável e evitar o aumento da pobreza local.”
Pressão por alimentos e combustível
O estudo prevê que uma hipotética proibição total do desmatamento de florestas tropicais para a agricultura na América Latina e do Caribe poderia gerar grandes perdas agrícolas potenciais nessas áreas. Por exemplo, em 2030 os agricultores receberão US$ 12,7 bilhões (em dólares de 2000) a menos do que poderiam receber sem a proibição.
Embora haja muita incerteza quanto ao valor das emissões de gases de efeito estufa no mercado, a compensação que poderia ser obtida através da venda de créditos de carbono somente poderia cobrir um pouco mais da metade das perdas agrícolas totais associadas à proibição, levando-se em conta o preço médio de 2009 de aproximadamente US$ 4,30/t CO2 eq.
A América Latina e o Caribe estão sob intensa pressão para ampliar a produção agrícola de modo a atender a crescente demanda mundial por alimentos, biocombustíveis e ração animal, que, segundo as expectativas, deve subir entre 50% e 85% no período de 2009 a 2030.
O desmatamento e a degradação das florestas são hoje a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa na região e estudos científicos sugerem que políticas para deter a destruição da cobertura florestal serão fundamentais para estabilizar as emissões mundiais desses gases. O estudo é parte dos esforços contínuos do BID para melhorar as informações e o entendimento sobre os custos e benefícios potenciais de políticas de mitigação e adaptação à mudança climática.
As perdas econômicas derivadas da proibição seriam desigualmente distribuídas nas áreas tropicais. O norte da América do Sul em torno da Amazônia sofreria cerca de 32% de todas as perdas. Ao mesmo tempo, a proibição induziria um aumento da produtividade agrícola e uma mudança no mix de produtos em áreas não-tropicais da região, o que poderia gerar ganhos econômicos de aproximadamente US$ 3,4 bilhões e algumas emissões adicionais de gases de efeito estufa.
Em termos mundiais, os efeitos da proibição do desmatamento sobre a pobreza seriam muito pequenos, uma vez que produtores e consumidores pelo mundo acabarão se ajustando à ausência de alimentos vindos de áreas hipoteticamente protegidas. Os preços dos alimentos seriam mantidos essencialmente em sua tendência de longo prazo normal. Isso é uma notícia muito boa para os pobres, incluindo as muito grandes populações urbanas da América Latina e Caribe.
O estudo também prevê que, nos próximos 20 anos, a pecuária superará o desmatamento e a degradação florestal como principal fonte de emissões de gases de efeito estufa na América Latina e no Caribe. Com informações do BID.
Eduardo Basílio, 13 anos atrás
Certezas mesmo são muito poucas. Suposições são inúmeras. O que se pode perceber realmente, visitando regiões próximas a áreas de grande volume florestal ainda em pé, é que falta opção de renda para as populações que lá vivem. Daí a exploração tradicional, que implica em derrubada da mata torna-se inevitável. O extrativismo puro e simples não melhora a vida destas populações, em termos de renda. Os volumes e valores são baixos. Então, são forçados a derrubar madeira sem manejo correto, criar gado, garripar etc, enfim exercer atividades mais agressivas ao meio, mas que tem maior liquidez e que são mais viáveis. O caminho passa, sem dúvida, pela oferta de melhores condições de renda para essas populações, de uma forma ou outra. Sem isso, creio que o restante seja apenas belos discursos e devaneios promocionais.