A nova cara do Judiciário

em 10 June, 2011


Artigo de Paula do Nascimento Barros González.

A devastação causada pela chuva na Região Serrana, em janeiro, soterrou e inundou dezenas de casas e prédios da cidade que escolhi para viver e criar meus filhos. Vi Nova Friburgo desabar em uma escura madrugada. Ainda lembro dos gritos e pedidos de socorro. Quase 500 corpos a serem sepultados. Senti a dor dos familiares na identificação das vítimas. Chorei com eles. Milhares de desabrigados. Fui, como todos os moradores, confortada pelo manto da solidariedade. Passados quatro meses da tragédia, a cidade ainda segue na luta para se reconstruir.

 Se, conforme afirmou o grande jurista Ruy Barbosa, a Justiça prospera e vive mais da verdade com que se pratica do que de grandes inovações e reformas, esta era a hora de nós, juízes do estado Rio, e especialmente de Nova Friburgo, trocarmos a toga pela galocha e sairmos em campo. E foi o que fizemos. De abrigo em abrigo, ao lado da população.

Com esse sentimento e o objetivo de atender as demandas judiciais que surgiram com a tragédia, bem como antecipar o julgamento de outras que tragam recursos financeiros para a população e a economia local, o Juizado Especial Cível de Friburgo promoveu, em maio, um Mutirão Judiciário que contou com a participação de 14 juízes, muitos, inclusive, oriundos de municípios vizinhos e da capital fluminense. Após quatro dias de audiências o resultado foram 462 processos julgados e 62 acordos obtidos. Motivados pelos resultados, os magistrados já programaram um novo Mutirão na cidade, a ser realizado no próximo dia 13 de junho, com 127 audiências agendadas.

Vale lembrar que todos os juízes que participam do Mutirão o fazem de forma voluntária. Promover justiça, afinal, deve ter um sentido muito mais amplo que não cabe apenas nos limites de uma sentença judicial. Estar mais perto da população e assegurar uma prestação jurisdicional célere e eficaz são metas partilhadas pelos cerca de mil magistrados do estado do Rio. A nova cara do Judiciário é também mais solidária.

Paula do Nascimento Barros González, juíza de Nova Friburgo e da Amaerj (Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro).

 (As opiniões dos artigos publicados no site Observatório Eco são de responsabilidade de seus autores.)




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