Pensar sobre teoria e prática pode mudar visão profissional
Da Redação em 27 February, 2011
Tuite
Parte dos alunos universitários não consegue apreender em sua totalidade os significados dos conceitos que são transmitidos a eles e, assim, apresentam dificuldades em encontrar soluções para problemas cotidianos ou em propor inovações para aspectos técnicos.
A constatação é da pesquisadora Neuza Abbud que realizou uma pesquisa de campo com dez alunos da disciplina “Iniciação à produção Acadêmica”, que ela lecionou no segundo semestre da gradução em administração de uma universidade particular de São Paulo. A pesquisa foi realizada no período de 2007 a 2008.
“De início, solicitei aos alunos uma redação sobre temática que os conduzisse ao relato de atividades vinculadas ao curso, que eles empreendiam profissionalmente. Pedi também que descrevessem sobre suas dificuldades e como viam a ligação desta atuação ao que foi aprendido no primeiro semestre do curso de administração”, relata a docente.
A partir deste primeiro passo, a pesquisadora tratou as questões elencadas pelos alunos, individualmente, num procedimento de debates e reflexões, denominado maiêutica, difundida pelo filósofo grego Sócrates — um procedimento que busca contribuir para uma precisão de pensamento por intermédio da operação da linguagem.
“Qualquer palavra era o suficiente para que eu fizesse o aluno se perguntar sobre quanto do significado desta palavra ele realmente entendia. Por meio de perguntas e mais perguntas, o estudante era instigado a refletir em busca de uma resposta, confirmando, ao final, o que poderia vir a ser o tema do pré-projeto científico a ser estruturado com base no método científico”, descreve Neuza.
Ela explica que a pesquisa partiu do pressuposto de que o “aluno mesmo que recém saído do ensino fundamental, já deveria ter a competência para desenvolver uma análise lógica de qualquer de situação”.
Racionalidade técnico-científica
Segundo Neuza, pensadores e estudiosos consideram que executivos eficientes no mundo global devem revestir seu desempenho com atributos de empreendedorismo, criatividade e racionalidade técnico-científica. “Tais atributos são características essenciais para a concepção, execução e avaliação de inovações e descobertas, tanto no campo de projetos quanto no caso de produtos concretos.”
Ao desenvolver o estudo, a pesquisadora analisou a racionalidade técnico-científica, implícita no desempenho dos alunos sob duas dimensões. A primeira dimensão considerou relações lógicas que representassem a articulação entre a experiência de vida e as ideias pensadas.“ Não se trata apenas de como a pessoa enxerga o mundo, mas sim de como ela consegue, juntando suas experiências, ver o que está enxergando, seus próprios pensamentos sobre o mundo e as referencias teóricas estudadas” .
A segunda dimensão refere-se à relação entre situações-problema identificadas no presente da vida social e possíveis intervenções no âmbito da atuação profissional. Essas intervenções pressupõem uma capacidade estratégica de projetar decisões com base em informações do presente e do passado, relacionadas ao equacionamento do problema e/ou suas eventuais soluções futuras.
Neuza aponta ainda que a inexistência de um significado único para a conceituação de globalização econômica e a falta de busca pelo aluno em saber as diferenças de suas várias definições faz com que ele apenas reproduza sofisticadamente o que lhe foi transmitido. “Há diversas formas de se definir globalização”, ressalta a pesquisadora. “Os estudantes acabam emitindo opiniões do senso comum e não desenvolvem críticas ou raciocínios inovadores por ausência de argumentosque ele mesmo já tenha refletido a respeito”, destaca.
Segundo a pesquisadora, “os alunos apresentam um raciocínio sofisticado, e até conseguem perceber suas dificuldades no exercício da racionalidade técnico-científica, mas não tem ideia dos porquês possuem estas limitações, e o que as constituem.
A professora explica que ao se deparar com a racionalidade técnico-científica, o aluno não consegue analisar e compreender os motivos que fundamentam suas ações, palavras e pensamentos. “Eles não têm independência para raciocinar e proceder em suas atitudes de forma lógica, porque estão condicionados a apenas reproduzir.”
A dissertação de doutorado Pensando o Pensar: Uma Análise sobre as Narrativas do Cotidiano foi apresentada ao Instituto de Psicologia, em 2010, e orientada pela professora Eda Terezinha de Oliveira Tassara. Com informações da Agência USP.