Discreta esperança

em 10 January, 2011


Começou um novo ano. Decorreu a primeira década do século XXI e do terceiro milênio. O que se pode esperar de 2011?

Iniciam-se novas gestões em âmbito federal e estadual. Legislaturas renovadas nos mesmos níveis. Situação por si geradora de alguma expectativa. É justo que as pessoas aguardem por dias melhores. O Brasil padece de inúmeras carências. Há um fosso enorme entre a promessa feita pelo constituinte em 1988 de erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades e a situação de grande parte da população.

Deficiências no serviço público são registradas em todos os setores. Na educação, apurou-se a incapacidade do aluno brasileiro entender o que leu. Na saúde, as pessoas continuam a aguardar meses por uma consulta e, os desvalidos, a morrer nos corredores dos ambulatórios. Conexo a esse, o problema do saneamento básico. Sem infraestrutura de esgotamento doméstico, intensificam-se os riscos de disseminação de epidemias. Por isso é que o melhor médico é o conjunto de obras que pode ser denominada de saneamento básico.

Não é só. Há falta de empregos e de moradia. Aumenta o número de drogados e de moradores de rua. A violência campeia, o sistema carcerário capenga, a Justiça padece de lentidão. Qual seria o campo reservado à atuação do Estado que passaria por um teste de qualidade e eficiência?

Atribuir a qualquer nível de governo a responsabilidade integral por imediata resolução de todos os problemas brasileiros é utopia. O governo pode muito, mas não pode tudo. O modelo de Democracia brasileira é participativo, não mais representativo puro. Por isso, o povo precisa ajudar. Fazer a sua parte: ocupar-se da educação integral, que não é mera escolarização. Defender o ambiente. Denunciar os erros. Não perder a capacidade de indignação.

Se isso vier a ser praticado, ao menos por aquela parcela da cidadania considerada lúcida, haverá espaço e ambiente para uma discreta esperança. Mais do que isso é também fantasia. Alguém acredita em crescimento no nível chinês? Ou é legítimo esperar que haja milagres, em lugar de se concretizar o milagre do trabalho, da atuação e da vontade de mudar o mundo?

José Renato Nalini, desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium.




1 Comentário

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