O Tripé da Sustentabilidade está se sustentando?
Da Redação em 7 November, 2010
Tuite
Artigo de Rejane Pieratti.
Quando se aborda a questão ambiental rapidamente surge a discussão sobre consumo e padrões de produção. A cobrança então recai principalmente sobre as empresas, que devem manter modelos de gestão que tenham a transparência e a sustentabilidade como foco.
Gostaria que esse artigo fosse lido e refletido também por iniciantes no assunto, por isso vou sempre fazer uma breve explicação de alguns termos utilizados no texto.
Em se falando de sustentabilidade o foco se volta para o Triple Bottom Line, conhecido como os 3 Ps (People, Planet and Proift), ou, em português, PPL – Pessoas, Planeta e Lucro; ou ainda como o tripé da sustentabilidade, onde estão contidos os aspectos econômicos, ambientais e sociais.
Diz-se que para um empreendimento humano ser sustentável, tem de ter em vista 4 requisitos básicos. Esse empreendimento tem de ser:
ecologicamente correto;
economicamente viável;
socialmente justo; e
culturalmente aceito.
O termo Desenvolvimento Sustentável foi mencionado pela primeira vez em 1987 no relatório “Nosso Futuro Comum”, documento elaborado durante a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, liderada então pela primeira ministra da Noruega, Gro-Brundtland:
“É aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas necessidades”.
A primeira iniciativa para inserir essa idéia na gestão dos negócios surgiu com o conceito de Ecoeficiência, que foi apresentado na Rio-92 pelo empresário suíço Stephan Schmidheiny. Como foi um conceito definido pelo próprio mundo dos negócios foi rapidamente popularizado entre os executivos de todo o mundo.
“Ecoeficiência é uma filosofia de gerenciamento que leva à sustentabilidade, combinando desempenho econômico e ambiental e reduzindo os impactos ambientais ao utilizar mais racionalmente matérias-primas e energia”.
Então vemos que um dos desafios das empresas é integrar a variável ambiental à gestão dos seus negócios.
Acho digno! Como disse minha filha adolescente outro dia interrompendo uma conversa minha sobre o assunto: mas isso não seria uma obrigação das empresas ao invés de ser mais uma vantagem competitiva? Infelizmente ela continuou com sua dúvida, pois é realmente uma história muito longa para ser explicada dentro dos poucos minutos que permitem a paciência de um adolescente.
Você deve estar se perguntando agora: E afinal onde as empresas brasileiras de fato se encontram nessa caminhada?
Cá pra nós, se aproximarmos o nosso olhar veremos que o tal do tripé ainda está um tanto “capenga”.
Vamos então aos “pés”:
Quanto ao “pé” Econômico as empresas estão buscando excelência, superando crises e lutando por melhores condições através de suas entidades de Classe.
O “pé” da Responsabilidade Social elas vem exercitando e melhorando seu desempenho já há algum tempo. Muitas no início tiveram que aprender até que a ajuda financeira que davam à creche ou ao projeto esportivo da escola vizinha era somente um assistencialismo ou, quando muito, um investimento social privado, e que para entrarem no mundo das empresas socialmente responsáveis precisavam desenvolver a capacidade de ouvir, compreender e satisfazer expectativas e interesses de seus diversos públicos. Ainda hoje é grande o trabalho de entidades como o Instituto Ethos para fazer com que as empresas entendam que a responsabilidade social deve fazer parte do DNA da empresa.
E o terceiro pé? Ambiental, né? Isso é custo. É chateação desses ambientalistas que nada fazem. Muitas empresas ainda pensam assim.
Aliás, diga-se de passagem, é graças a esses ambientalistas que um restinho da Mata Atlântica ainda existe, que o peixe-boi, a baleia jubarte, o golfinho rotador, os tubarões, as tartarugas e tantas outras causas estão sendo protegidas.
Com certeza devemos muito a essa gente boa e forte que vem vencendo grandes batalhas. Mas a minha preocupação agora é com o tal “pé” ambiental, com o discurso vazio que cresce em nome dele a cada dia.
As grandes empresas já possuem um departamento de gestão ambiental, é bem verdade que muitas vezes somente por força de cumprimento a legislações, resoluções e normas ambientais. Enquanto a gestão ambiental continuar sendo vista como apenas um departamento reativo, sem fazer parte da gestão global das empresas, a mudança desejada não vai acontecer.
As demais, na grande maioria dos casos, ouviram o galo cantar, sabem que deveriam estar fazendo algo a respeito, mas não sabem nem por onde começar. Apesar disso, para não ficarem por for a da “onda”, colocam em seus sites um monte de artigos bonitos falando sobre o tema ou alguma frase no final de seus e-mails como: “pense antes de imprimir, etc, etc…”
Existem ainda as que acham que podem sustentar o “pé” ambiental implementando apenas uma coleta seletiva muito mal feita ou mesmo somente neutralizando suas emissões de carbono plantando árvores – o que já é um passo, mas como iniciativa isolada pode ser vista muitas vezes como forma de indulgência.
São várias iniciativas isoladas que tem seu mérito sim, mas elas não podem ser referenciais para empresas ambientalmente responsáveis, e o que tem acontecido é que elas acabam apenas maquiando a questão e não permitindo com que o que é proposto no “pé” ambiental seja contemplado de fato: melhorar o desempenho ambiental das empresas. E o caminho é muito mais simples do que se imagina: é começar conhecendo quais são os impactos causados pela empresa (como ser responsável pelo que sequer se conhece?); criar programas com objetivos, metas e indicadores para minimizar esses impactos; monitorar, avaliar e voltar sempre ao início do ciclo para que aconteça um processo de melhoria continua.
O grande desafio a meu ver é mudar o olhar e com isso mudar a forma de pensar e agir com relação a ecoeficiência.
Os discursos são realmente muito bonitos e devem servir como inspiração para ações que mostrem resultados mensuráveis. Não temos mais tempo para ficar fazendo de conta, precisamos todos começar a cobrar os resultados em números que virão a partir de mudanças culturais. O que o tal do tripé precisa é estar apoiado em bases sólidas.
Termino então com algumas perguntas:
Estamos satisfeitos com os resultados do “pé” ambiental da sustentabilidade?
Será que ele vai realmente se fortalecer, ou na hora de mostrar resultados ele vai ser sublimado em detrimento do intocável interesse do capital (cada vez mais liberal)?
E mais uma:
Estamos todos fazendo o nosso dever de casa dentro de nossas entidades?
Rejane Pieratti, consultora ambiental e uma das fundadoras da ONG Amigos do Futuro.