Não existe ESG sem estratégia econômica

em 29 August, 2023



ESG 5

Artigo de Roberto Gonzalez.

Há anos que se fala em ESG. Mesmo assim, ainda existem muitas dúvidas em torno deste conceito. Entre elas, está a dúvida se existe ESG sem estratégia. A resposta é não. É impossível. Para entender o porquê, é preciso levar em consideração como este conceito nasceu. Há uma sopa de letrinhas no mercado. Para tudo há uma sigla. E as três letras referentes à gestão responsável estão ali por um motivo.

O ESG nasceu de um chamado feito pelo então secretário geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Kofi Annan, em conjunto com entidades do mercado financeiro. O ano era 2004 e eles chegaram à conclusão que avaliar uma companhia só pelos critérios tradicionais econométricos, financeiros e contábeis, não era suficiente. O valuation não estava sendo adequado. Era necessário incorporar questões socioambientais, também chamadas pré-financeiras, que impactavam o preço da ação, mas, eles não sabiam como fazer essa avaliação.

Depois de muitos estudos e reuniões, surgiu o conceito ESG que, na minha opinião, deveria ter um segundo “E”, de econômico. É que eles partiram do pressuposto de que o estado da arte, que já se tinha no mercado do ponto de vista da governança econômica, financeira e contábil, deveria se transpor para a questão socioambiental. Ou seja, deveria ter uma governança única unindo todas essas questões. E por isso decidiram não ser necessário colocar o “E” de econômico o que, no meu entender, foi um equívoco. Tanto que hoje há pessoas que acreditam na necessidade de haver duas governanças na empresa. A governança econômica, financeira e contábil tradicional e a governança socioambiental. Um absurdo.

Por incrível que pareça, tem gente que defende essa dualidade, pois interpretam que esses temas não podem ser misturados, o que é uma aberração. Na verdade, o ESG defende uma governança só. E ser uma só é fundamental porque ela integra as questões socioambientais às econômicas, financeiras e contábeis, pois tudo impactam o valuation de uma empresa. Inclusive, o conceito nasceu defendendo isso. Como já disse, minha única ressalva – e não só minha, mas de outros especialistas – é que a sigla deveria ser EESG, para incluir econômico, o que evitaria confusão.

Talvez por essa dificuldade de compreensão, ainda é comum ter a impressão de que o ESG é um conceito limitador do desempenho econômico-financeiro de uma companhia, quando na realidade é o contrário. O fato é que o ESG foi buscar os outros pilares de valores que fundamentam o lucro e que tem o olhar de risco. Na verdade, antes da criação do conceito já se olhava para o risco, mas de maneira limitada. Em uma gestão baseada na sustentabilidade, esse olhar é mais amplo até porque o risco pode resultar em perda de valor de uma corporação.

Em resumo, o mercado começou a ver que boas práticas socioambientais contribuem para agregar valor à companhia. Exemplos dessa consciência não faltam. Há uma empresa de cosméticos aqui no Brasil, que abriu o capital em 2004 e que é uma grande referência, tanto em governança quanto em práticas socioambientais e que teve isso positivamente refletido em seu valor. Devagar, o mercado vem percebendo que a prática socioambiental nociva reduz o valuation e a proativa e benéfica gera valor. Isso reflete no preço da ação. Ou seja, tudo está interligado dentro de um único conceito.

Roberto Gonzalez é consultor de governança corporativa e ESG e conselheiro independente de empresas. É autor do livro “Governança Corporativa – O Poder de Transformação das Empresas”.




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