Preservação ambiental na Turquia esbarra no desenvolvimento
Da Redação em 19 December, 2012
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Grupos ambientalistas locais e internacionais se unem na Turquia para conscientizar a população e tentar mobilizar o governo. Leis de proteção ambiental no país raramente saem do papel. (Alguns aspectos práticos até lembram um pouco o Brasil).
A Comissão Europeia tem feito severas críticas à falta de diretrizes para a proteção da qualidade da água e controle de radiação na Turquia. A conservação ambiental no país é bastante limitada, e as políticas adotadas geralmente tomam o caminho inverso. O país recentemente aprovou leis a favor da mineração e de incentivo ao turismo que podem trazer grandes prejuízos ao meio ambiente.
Gülcan Nitsch, fundadora do “Yeşil Çember”, a representação turca da organização ambientalista alemã BUND, conhece o problema de perto. “A questão do meio ambiente na Turquia ainda está engatinhando. É necessário trabalhar para seu desenvolvimento”, afirmou a alemã de origem turca.
Organizações ambientalistas têm dificuldade em negociar com o governo do país. Segundo a ativista, as políticas referentes ao meio ambiente não saem do papel. Existem leis de proteção, mas não há controle, diz ela. “As empreiteiras recebem autorização para construir até em áreas de preservação ambiental.”
Governo investe em energia nuclear
Nitsch reclama que a Turquia prioriza investimentos em avanços tecnológicos, como a assinatura de um contrato com a Rússia para a construção de sua primeira usina nuclear. O local da planta de 20 milhões de dólares será Akkuyu, no sul do país. Os quatro reatores nucleares deverão gerar 4.800 megawatts a partir de 2017.
Essa iniciativa gerou protestos por parte de ambientalistas e moradores, uma vez que a cidade de Akkuyu está situada em uma área de risco de abalos sísmicos. Alguns residentes até já deixaram a região.
Além disso, especialistas do BUND afirmam que em todo o país pessoas tiveram que ser removidas devido a diversos projetos para geração de energia, como o Anatólia do Sul que inclui 22 represas e 19 usinas hidrelétricas nos rios Tigre e Eufrates, e as barragens Atatürk e Ilisu.
O represamento de enormes quantidades de água para a geração de energia e irrigação causou seca em outras regiões no país. As consequências para as áreas pantanosas foram devastadoras. Os lagos e pântanos de turfa não apenas servem como habitat para diversas espécies de plantas e animais, mas também são reservas de CO2. Especialistas examinaram as condições de duas áreas úmidas, Yenicaga e Akgol. O conhecimento desses estudos é utilizado tanto para medidas de prevenção quanto para a conscientização popular.
Segundo a bióloga Nitsch, a população já reconhece a importância da proteção ao meio ambiente. Ela espera que a questão ambiental seja levada mais a sério pelos políticos. Organizações alemãs e turcas lutam juntas por uma maior aceitação da proteção ambiental na Turquia. “Sabemos que será um longo caminho, mas queremos dar maior força às organizações ambientais.”
Pressão europeia
A bióloga sustenta que os políticos europeus podem e devem influenciar o governo turco nesse sentido. Rebecca Harms, representante do Partido Verde alemão no Parlamento Europeu, concorda. “A Europa ainda não reagiu com a firmeza necessária.”
A Turquia passa por um grande e rápido crescimento, e muito pode ser investido. “Esse é o momento ideal para lidar com os temas ambientais, mas ainda assim as coisas têm se desenrolado de forma equivocada”, observa Harms, acrescentando que o governo ignora não somente as questões ambientais, mas também descuida da herança cultural que está sendo destruída por projetos como represas e hidrelétricas.
O quadro já foi melhor. Há alguns anos, durante as primeiras negociações da adesão turca à União Europeia, o governo era aberto a críticas. No entanto, hoje a postura é outra. “Enquanto não houver uma perspectiva europeia para a Turquia, a situação continuará estagnada”, alerta Harms. Com informações da DW.