Um novo tempo para o agronegócio paulista
Da Redação em 22 October, 2012
Tuite
Artigo de Antônio Julio Junqueira de Queiroz.
Na última década, São Paulo foi responsável por um terço das exportações do agronegócio brasileiro, provedor de 36% das vendas no mercado externo e 40% dos empregos no País. Entretanto, talvez por preconceito político-ideológico, a importância da atividade e a participação paulista não têm sido respaldadas pelo Governo Federal. Assim, deixamos de explorar todo o potencial presente no empreendedorismo dos produtores, nossa liderança na agricultura tropical conquistada pela pesquisa e a aptidão natural para a produção de commodities agropecuárias. Lamentável, pois tais virtudes respondem à necessidade de ampliação em 20% da produção de alimentos até 2020, indicada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
De janeiro a agosto de 2012, a balança do agronegócio paulista teve redução de 15,2% no saldo comercial em relação ao mesmo período de 2011, atingindo US$ 7,18 bilhões, e as exportações setoriais representaram 3% a menos. A queda pontual não pode virar uma tendência. Por isso, é imprescindível fortalecer a economia rural de São Paulo, cujos destaques são os complexos sucroalcooleiro e citricultor, carne bovina e madeira (pinus e eucalipto). Além disso, o cinturão verde da Região Metropolitana é responsável por um quarto da produção nacional de legumes e o Estado é o maior produtor nacional de frutas, com um terço do total.
A agricultura paulista é a maior e mais diversificada do País, mas duas questões se sobressaem quanto ao seu futuro: ampliar a oferta de alimentos e manter preços estáveis, para atender ao aumento da renda familiar dos brasileiros; e condições adequadas para que o setor sucroenergético cumpra seu papel. Por isso, independentemente da negligência federal, o Estado precisa fazer sua parte!
Nesse sentido, é necessário rever a estrutura da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, a começar pelo atendimento às demandas das propriedades agrícolas, nas quais prevalecem as pequenas e médias. Dentre os estabelecimentos rurais paulistas, somente 15% já recorreram ao Crédito Rural, pois têm medo de hipotecar as propriedades, e 3,5% acionaram o Seguro Rural, pois a maioria não o conhece. A consequência é a dificuldade de modernização. A secretaria, por meio do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista, é fundamental para transformar essa condição. A presença do setor público, seja referente à pasta ou aos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, ainda conta pouco para a imensa maioria dos pequenos e médios produtores. Uma limitação é a grande dificuldade de a informação chegar até eles (função da extensão rural); outra é que somente menos de um quarto participa de cooperativas ou sindicatos. É necessário melhorar a comunicação.
O governo paulista deve, ainda, fazer análise da logística de transportes de carga e das estruturas portuárias disponíveis. São Paulo já tem a melhor malha rodoviária do País e investirá mais na Hidrovia do Tietê-Paraná e na ferrovia. Esses são diferenciais competitivos, mas o Estado deve mostrar ao Brasil uma visão moderna e inovadora sobre o significado do desenvolvimento rural, baseada no paradigma contemporâneo do agronegócio mundial, centrado na produtividade, rentabilidade e aprimoramento dos mecanismos de gestão da qualidade, bem como na adequação ambiental e social em todos os elos das cadeias produtivas. Para a gestão desse processo, seria apropriada a criação do Índice de Desenvolvimento Rural das Regiões ou Municípios.
Todos esses fatores geram demandas e competências nas áreas pública e privada e precisam ser considerados na formulação das políticas do setor em São Paulo, cuja metodologia deverá situar-se em três vertentes: a importância e os limites do papel do Estado; a análise de experiências bem-sucedidas em outros países; e uma agenda sem traço tecnocrático. Para isso, é crucial ouvir os agentes produtivos, associações e sindicatos, pois eles vivem as dificuldades, conhecem as necessidades e saberão pleitear as ações e estratégias mais adequadas e decisivas para um novo salto quantitativo e qualitativo do agronegócio paulista.
Antônio Julio Junqueira de Queiroz, produtor rural, formado em administração (Esan/FEI), membro do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP e foi secretário interino da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.