Estudo mapeia aquisições do setor sucroalcooleiro
Da Redação em 22 December, 2011
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O setor sucroalcooleiro é um dos mais dinâmicos do Brasil que sofreu fortes mudanças, desde a implantação do Proálcool até as compras de várias unidades industriais nacionais (usinas) por grandes empresas estrangeiras. E esse processo não deve mudar. Para os próximos anos, empresas petrolíferas (com forte poder financeiro), petroquímicas e de biotecnologia estrangeiras devem dominar as aquisições no setor. Esse foi um dos resultados da dissertação de mestrado em Administração em Organizações, do consultor Mairun Junqueira Alves Pinto, intitulada “Investimentos diretos estrangeiros no setor sucroenergético”, desenvolvido na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP) da USP.
O consultor analisou a trajetória dos investimentos internacionais no setor sucroenergético no Brasil desde 2000. Para chegar à conclusão, além do levantamento de negociações, entrevistou especialistas que atuam no setor, incluindo representantes de empresas estrangeiras. Os entrevistados foram unânimes em afirmar que as empresas petrolíferas e as indústrias químicas, petroquímica e de biotecnologia, que possuem tecnologia para agregar valor ao negócio, deverão ser as principais compradoras no futuro próximo. “Esse trabalho foi um mapeamento do setor mostrando os diferentes ciclos de aquisições e um histórico de quem são essas empresas e o que as motivou a investir no País”, comenta.
O pesquisador abordou as transformações em relação aos investimentos estrangeiros em usinas brasileiras, diferentes ciclos de desenvolvimento e crise, conquista de novos mercados e desenvolvimento de novos produtos. Apesar dessas mudanças de cenário, típicas do setor, ele verificou a capacidade de atrair empresas estrangeiras de diversos países e setores da economia. O trabalho de Alves Pinto, sob orientação do professor Marcos Fava Neves, buscou analisar e compreender a evolução desse processo e identificar quais os tipos de empresa estrangeiras realizaram os investimentos diretos no setor, quais são suas principais motivações e quais são os fatores que possivelmente influenciam as decisões quanto às estratégias de entrada – esse último item não foi aprofundado no trabalho.
Desde o início do século 21, o setor recebeu entrada forte de capitais de empresas estrangeiras, de diferentes segmentos, desde tradings companies, do setor açucareiro, petrolíferas, petroquímicas, biotecnológicas e de fundos de investimentos.
Ciclos
Foram identificados três ciclos distintos de entradas dessas empresas internacionais. O primeiro foi marcado pelo processo de desregulamentação do setor e emergências das exportações brasileiras de açúcar, com as entradas de quatro empresas francesas, entre 2000 e 2001: duas trading companies (Louis Dreyfus Commodities e Sucden) e duas cooperativas agroindustriais produtoras de açúcar de beterraba (Union DAS/Tereos e Béghin-Say). Não houve investimentos estrangeiros nos quatro anos seguintes. Mas em 2006 verificou-se o segundo ciclo, com a necessidade do mercado internacional em etanol. Aumentou o número de empresas e de setores (petrolíferas, petroquímicas, entre outras), com 18 movimentações de investimentos diretos entre 2006 e 2008 no País.
A crise econômica mundial no segundo semestre de 2008, no entanto, conteve essa euforia. “Essa crise espantou os ‘aventureiros’”, afirma Alves Pinto. Ou seja, as que buscavam algum tipo lucro a curto prazo afastaram-se, ficando as que vislumbravam um negócio a longo prazo. Assim, o terceiro ciclo teve entrada mais lenta. Em 2009, a Shree Renuka, a maior produtora de açúcar da Índia, foi a única estrangeira a realizar os primeiros investimentos diretos no setor. Em 2010, houve apenas a entrada da trading suíça Glencor e, até julho de 2011, a produtora de grãos argentina Los Grobo e a petrolífera Royal Dutch Shell, com sede na Holanda, foram as únicas entrantes do ano.
Apesar da cautela, estrangeiros continuaram investindo no Brasil, aumentando as capacidades de moagem de suas usinas, saltando de 7%, em 2008, para 14%, em 2009, 22%, em 2010, e, finalmente, 32% em 2011. O trabalho do pesquisador analisou ainda as estratégias dos investidores, que na maioria das vezes optaram por comprar usinas, ou com controles compartilhados, e não montar novas indústrias. O Brasil tem mais de 430 usinas em operação, distribuídas entre 180 grupos empresariais. Com informações da Agência USP.