Uma história sobre educação, ecologia e Código Florestal

em 22 July, 2011


Artigo de Tulio Kengi Malaspina.

Tenho apenas 24 anos e antes mesmo de saber da existência do Código Florestal já sabia na teoria e na prática a sua importância. As minhas aulas de geografia do ensino médio e fundamental falavam sobre diversos aspectos fundamentais para a boa saúde de um ecossistema e também demonstravam como a ausência de cuidados determinava a falência da produtividade do solo em alguns locais. Quando eu ainda não tinha idade para votar, já havia estudado o que era assoreamento e erosão e conseguia entender alguns pontos básicos que levam a esses fenômenos.

Nada como a prática para nos fazer entender como a teoria funciona:

Sou descendente de italiano e meu avô teve uma vida essencialmente agrária. Logo após a sua morte, meus tios ficaram responsáveis pelas terras da família e deram continuidade as plantações. O sítio não era grande, mas tinha de tudo um pouco, desde cavalos, vacas, porcos e galinhas até laranjeiras, mangueiras, milharal etc. Vivi parte da minha infância nesse sítio, aprendendo com meu pai (que é biólogo) sobre o ecossistema.

Sempre tive curiosidade de entender por que havia uma parte da terra que era floresta, intocada, com árvores gigantescas. Meu pai explicava que era uma questão legal e que isso colaborava para a boa saúde do sítio. A mata ciliar eu não precisava perguntar, já havia estudado sua importância e sabia que aquele matagal perto do rio era um dos fatores que influenciavam diretamente na hidrologia local.

Um certo ano, em meados de 1995, notei que parte da mata ciliar havia desaparecido para dar lugar a plantação de quiabo e aos bovinos, que precisavam do rio para beber água. Fiquei perplexo, pois na “escolinha” haviam me ensinado que uma atitude dessas viria a modificar todo o ecossistema. Todos estavam cientes do que viria a acontecer, e aconteceu: Alguns anos depois, vítima do assoreamento, o rio havia se tornado um fio de água caudalosa e barrenta, onde o gado já não conseguia beber água, e mesmo sendo apenas um fio de água, a erosão do solo havia destruído toda a terra ao seu redor, impossibilitando o plantio.

Foi só uma questão de tempo para que meus tios dessem conta da besteira que haviam feito. Eu, no alto dos meus 11 anos, observava os adultos em silêncio, me perguntando se eles haviam tido aulas de geografia. Certamente não. A mata ciliar foi replantada, mas os anos de crise ainda podem ser vistos no sítio. Não temos mais cavalos ou vacas e toda a parte agricultável é miserável.

Esse é um caso verídico que aconteceu comigo durante a década de 90 e que eu nunca pensei que faria tanto sentido anos depois. Essa minha experiência demonstra como algumas mudanças influenciam a nossa vida e a saúde ecossistema e o Código Florestal, da forma como é hoje, está ai para evitar que a ganância humana se sobreponha às necessidades da natureza. Eu, no alto dos meus 24 anos, observo os “adultos” e me pergunto se eles tiveram aulas de geografia. Certamente que não. 

Tulio Kengi Malaspina, jornalista e editor do blog AtitudeEco.

(As opiniões dos artigos publicados no site Observatório Eco são de responsabilidade de seus autores.)




1 Comentário

  1. Tulio Malaspina, 13 anos atrás

    Super obrigado pelo carinho e pelo ótimo trabalho!
    ;)


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