Papa Francisco abraça a defesa do Planeta
Da Redação em 18 June, 2015
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Documento histórico do papa Francisco trata da defesa do meio ambiente e critica o estilo de vida poluidor adotado pela sociedade. Dividida em seis capítulos e com apoio científico, o texto é inspirador e clama pelo bom senso dos habitantes e governantes deste planeta.
Clima, biodiversidade, água, poluição do ar, energia, resíduos, tecnologia. Praticamente todos os aspectos da crise ambiental mundial estão abordados numa encíclica do Papa Francisco inteiramente dedicada à proteção do planeta, divulgada nesta, quinta-feira (18/06), pelo Vaticano.
Não é a primeira vez que um Papa se debruça sobre os temas ambientais. E a própria encíclica recorda passagens de textos desde 1971, de Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.
Mas uma encíclica inteiramente dedicada ao ambiente é uma novidade. E, mais do que isso, Francisco põe-se claramente ao lado dos cientistas na questão das alterações climáticas. “Existe um consenso científico muito consistente que indica que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático”, escreve. O clima, diz a encíclica, “é um bem comum, de todos e para todos”.
O Papa aponta o dedo aos combustíveis fósseis e afirma: “A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudar o seu estilo de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o provocam ou agravam”.
“As alterações climáticas são um problema global, com graves implicações ambientais, sociais, económicas, distributivas e políticas, e constituem o principal desafio da humanidade”, acrescenta a encíclica, na mesma linha do que cientistas e políticos têm vindo a dizer nas últimas duas décadas.
Para a elaboração da encíclica, o Papa cercou-se tanto de pensadores religiosos como de cientistas. Um dos académicos que esteve profundamente envolvido no processo foi Hans Schellnhuber, presidente do Instituto Potsdam de Investigação sobre os Impactos Climáticos, na Alemanha. Schellnhuber é um dos principais investigadores nesta área e considerado como o pai da ideia de que se deve evitar um aumento da temperatura média global acima de 2oC até ao final deste século.
Na apresentação da encíclica, numa conferência de imprensa no Vaticano, Schellnhuber saudou a iniciativa do Papa. “[A encíclica] junta a fé e a moral à razão e ao engenho”, disse.
Um relatório “melhor e mais claro”
O texto do Papa descreve detalhadamente as causas e consequências do aquecimento global. “É como se fosse um relatório do IPCC [Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas], mas melhor e mais claro”, interpreta Francisco Ferreira, da associação ambientalista Quercus.
Com a encíclica, a Igreja Católica posiciona-se claramente em relação a várias opções políticas e economicas relacionadas com as alterações climáticas. O texto defende a substituição dos combustíveis fósseis pelas energias renováveis. E critica os sistemas de comércio de emissões de carbono, que “podem conduzir a novas formas de especulação” e “não permitem as mudanças radicais que a circunstância presente exige”.
O texto do Papa surge num momento crítico das negociações internacionais para um novo tratado climático, que deverá ser adoptado em Dezembro, numa conferência das Nações Unidas (ONU) em Paris. Já este mês, o tema será discutido num encontro de alto nível promovido pela ONU em Nova Iorque. E em Setembro, deverão ser aprovados também pela mesma organização os objectivos do desenvolvimento sustentável. “O momento para a divulgação desta encíclica não poderia ser melhor”, afirma Francisco Ferreira.
O clima não é senão um dos tópicos abordados pela encíclica. O texto toca em tudo o que diga respeito à crise ambiental – ou seja, à forma como a humanidade está a desestabilizar o planeta. Francisco cita os efeitos da poluição atmosférica, que “provocam milhões de mortes prematuras”, e fala do problema dos resíduos. “A Terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo”, afirma.
Também lá está o risco de extinção de espécies, com o alerta de que animais e vegetais não são apenas “recursos exploráveis” mas também têm “um valor em si”. O papa também reflecte sobre os problemas de acesso à água, criticando a tendência de privatização deste recurso, “tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado”.
Os desafios e oportunidades da tecnologia também estão presentes. O texto menciona os riscos do acelerado mundo digital, dizendo que “os grandes sábios do passado correriam o risco de ver sufocada a sua sabedoria no meio do ruído dispersivo da informação”. E aborda também, de uma forma cautelosa, o debate sobre os transgénicos. “Às vezes não se coloca sobre a mesa a informação completa, mas é seleccionada de acordo com os próprios interesses, sejam eles políticos, económicos ou ideológicos”, escreve Francisco.
Conversão ecológica
Ao encerrar a Audiência Geral no dia anterior na quarta-feira (17/06), o papa Francisco disse que a Terra tem sido maltratada e saqueada. “Esta nossa ‘casa’ está sendo arruinada e isso prejudica a todos, especialmente os mais pobres. Portanto, o meu apelo é à responsabilidade, com base na tarefa que Deus deu ao ser humano na criação: ‘cultivar e preservar’ o ‘jardim’ em que ele o colocou. Convido todos a acolher com ânimo aberto este Documento, que está em sintonia com a Doutrina Social da Igreja”, exortou Francisco.
O papa explicou que o nome da Encíclica foi inspirado na invocação de São Francisco “Louvado sejas, meu Senhor”, que no Cântico das Criaturas recorda que a terra pode ser comparada com uma irmã e uma mãe.
A nova Encíclica é composta por seis capítulos, são eles: “O que está a acontecer à nossa casa”, “O Evangelho da criação”, “A raiz humana da crise ecológica”, “Uma ecologia integral”, “Algumas linhas de orientação e ação” e “Educação e espiritualidade ecológicas”.
Ao longo do texto, o papa convida a ouvir os gemidos da criação, exortando todos a uma “conversão ecológica”, a “mudar de rumo”, assumindo a responsabilidade de um compromisso para o “cuidado da casa comum”.
“Deus, que nos chama a uma generosa entrega e a oferecer-Lhe tudo, também nos dá as forças e a luz de que necessitamos para prosseguir. No coração deste mundo, permanece presente o Senhor da vida que tanto nos ama. Não nos abandona, não nos deixa sozinhos, porque Se uniu definitivamente à nossa terra e o seu amor sempre nos leva a encontrar novos caminhos. Que Ele seja louvado!”, disse Francisco ao final da Encíclica.
Em consonância com a encíclica do papa, em 2016, a Campanha da Fraternidade Ecumênica da CNBB terá como tema “Casa comum, nossa responsabilidade”. A atividade será coordenada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). Com informações da Agência Público Portugal e a CNBB.
Encíclica ecológica feita pelo Papa Francisco completa 1 ano, 8 anos atrás
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