Consumismo e consumo consciente: querer é diferente de precisar

em 4 December, 2011


Artigo de Marcus Mingoni.

Todos já presenciamos ou vivemos na própria pele aquela cena constrangedora em que a criança chora e esperneia em uma loja por não ter o seu pedido atendido. Os pais muitas vezes parecem impotentes para lidar com a situação, que é realmente desafiadora. Por um lado, as ações de marketing voltadas às crianças estão cada vez mais sofisticadas e crescem em ritmo exponencial. Por outro, o acesso simultâneo a diversos tipos de tecnologia e a enorme exposição à informação tem proporcionado às crianças plena consciência da influência que exercem nos hábitos de consumo da família. Há, também, o componente da compensação: muitos pais compram o que os filhos desejam para aliviar a culpa pela ausência no convívio diário.

Estamos falando de crianças em processo de formação, que não estão preparadas para o bombardeio de estímulos ao consumo a que são submetidas diariamente. Os efeitos são devastadores e extrapolam o ambiente familiar, gerando custos para a sociedade e o meio ambiente. O desenvolvimento de comportamentos incompatíveis com as respectivas fases do crescimento desgasta as relações familiares, faz com que muitas crianças tenham dificuldade em compreender as limitações do orçamento familiar e as deixa com tolerância muito baixa a frustrações.

É claro que temos a responsabilidade e o dever de pressionar os agentes sociais e políticos para que sejam criados mecanismos de regulação das campanhas dirigidas às crianças. Ao mesmo tempo, é urgente que os pais se posicionem. O objetivo não é criar uma redoma de isolamento, mas tentar preparar nossos filhos para consumirem com equilíbrio e discernimento.

Algumas ações podem contribuir para a formação de consumidores conscientes. O primeiro passo é os pais refletirem sobre suas próprias fraquezas. Se eles compram apenas roupas de marca, não planejam os gastos do orçamento familiar e estão sempre “no vermelho”, fica muito complicada a tarefa de educar os filhos na direção de um consumo consciente e responsável.

Já a questão da televisão é um capítulo a parte. Não ter o aparelho à disposição no quarto dos filhos é um avanço importante. Essa medida obriga a criança a dividir o tempo que passaria diante da TV com os demais membros da família, o que pode colaborar para desenvolver o espírito de cooperação. Ao assistir junto com os filhos alguns programas e propagandas, os pais podem aproveitar para conversar sobre o teor deles e levar a criança a ter uma visão crítica daquilo que assiste. Estabelecer limites de tempo para assistir TV e ficar ao computador também é saudável.

Melhor ainda do que impor regras é buscar atividades que possam ser realizadas em família e que não envolvam a mídia. Isso inclui uma extensa gama de programas interessantes, como ir a parques, realizar trabalhos voluntários, brincar com jogos de passatempo para a família, praticar esportes, participar de atividades culturais, ler e cozinhar juntos. Evitar levar as crianças para fazer compras também ajuda bastante, especialmente no caso das pequenas. Isso porque é difícil para elas compreender porque os pais não compram o que elas desejam. Todavia, se for inevitável levá-las, prepare-as antecipadamente sobre o que poderão ou não comprar. Isso ajudará muito na hora de dizer não e poder lembrar que já havia sido combinado.

Quando os pais percebem a dimensão do problema e refletem sobre as consequências maléficas que o consumismo precoce causa na família e na sociedade, está estabelecido o primeiro passo na direção de uma ruptura com esse estado de coisas. Desenvolver a consciência da importância de preparar nossos filhos para não serem alvos fáceis das elaboradas estratégias de marketing é fundamental. A oposição ao consumismo não significa o radicalismo de buscar o consumo zero, mas almeja proporcionar condições para um consumo inteligente e equilibrado, tanto do ponto de vista do orçamento doméstico como dos recursos do meio ambiente.

Marcus Mingoni, diretor de Operações da Divisão de Sistemas de Ensino da Editora Saraiva.

 (As opiniões dos artigos publicados no site Observatório Eco são de responsabilidade de seus autores.)




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