Senado debate a proteção de espécies ameaçadas
Da Redação em 16 October, 2011
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MAIS DIFÍCIL QUE AUMENTAR o conhecimento é mudar o comportamento. Assim foi definido por Claudio Padua, vice-presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas, o enfrentamento da acelerada perda de biodiversidade, em sua exposição no debate “A Proteção das Espécies Ameaçadas de Extinção”, realizado no Senado Federal.
Padua evitou posicionamentos radicais, afirmando que há espaço para “o econômico” e para “o natural” no mundo. Lamentou, entretanto, a falta de resultado das reuniões de cúpula ambientais.
O painel debateu a necessidade de se promoverem modificações no processo econômico, de modo a reverter a situação de insustentável, e discutir avanços que supram a percebida falta de eficiência da parte dos meios de comunicação para o trato de questões vinculadas à ecologia.
Segundo Claudio Padua, que apontou os últimos 50 anos como os de mais grave redução de biodiversidade e aceleração do número de espécies ameaçadas, a solução depende necessariamente de uma “ação planetária”. Porém, em seu ponto de vista, reuniões de cúpula como a de Estocolmo (1972) e do Rio de Janeiro (1992) geraram metas que não têm sido cumpridas porque cada país defende seu interesse econômico.
Padua elogiou na conferência de 1992 a tentativa de repactuar o valor da biodiversidade, algo que sempre envolve cifras “astronômicas”. Segundo dados apresentados pelo ambientalista, a biodiversidade vale US$ 33 trilhões por ano. Também foram interpretados positivamente por Claudio Padua os negócios que têm surgido em torno da defesa da biodiversidade, como o pagamento por serviços ambientais, a silvicultura tropical e os bancos de espécies, mas considera que são apenas o começo diante do necessário. Na sua avaliação, o Brasil está bem posicionado na pesquisa ambiental, com bons profissionais atuantes. Mudar o comportamento da população diante da questão ambiental, porém, depende de “mexer no bolso” das pessoas.
Na sequência do painel, Matthew Shirts, redator-chefe da National Geographic Brasil, lamentou que o jornalismo brasileiro esteja ainda mal equipado para lidar com a sustentabilidade, o que torna difícil tratar de temas como biodiversidade e mudanças climáticas. Em sua avaliação, o interesse dos jornalistas pelo meio ambiente vem aumentando, mas a cobertura dessas questões é prejudicada pela escassez de profissionais com conhecimento de ciência nas redações. Shirts espera que o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo reduza esse problema ao longo do tempo. Além disso, conforme assinalou, a biodiversidade não é um assunto que “venda” facilmente em comparação com questões do dia-a-dia urbano. Para Matthew Shirts, é preciso promover o conhecimento na comunicação para que os jornalistas entendam a complexidade dos temas que abordam.
Desaparecimento de espécies desconhecidas
Muitas espécies são extintas antes mesmo de serem conhecidas. A observação foi feita pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que também participou do debate “A proteção de espécies ameaçadas de extinção no Brasil”.
Na avaliação da ministra, é preciso que a população brasileira entenda o valor da biodiversidade e passe a cuidar do meio ambiente juntamente com o Estado. Para ela, a atitude de preservação ambiental deve fazer parte do cotidiano das pessoas.
Na opinião do representante da União Internacional para a Conservação da Natureza, Simon Stuart, as áreas de conservação têm contribuído de forma eficaz para evitar a extinção de animais. Ao falar da ameaça de extinção de espécies, ele afirmou ser possível reverter o quadro de crescimento da taxa de destruição da fauna.
Conservação
O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, informou que o país cataloga cerca de mil novas espécies a cada ano. Não apenas a biodiversidade deve ser preservada, mas também os chamados serviços ecossistêmicos, que sustentam a vida e regulam o sistema ecológico, explicou Bráulio Dias. Nos últimos 50 anos, informou, as taxas de perda de biodiversidade vêm aumentando, situação que só pode ser revertida com esforços significativos.
Em sua opinião, a preservação não deve acontecer apenas nas unidades de conservação, mas incluir mudanças nas práticas de desenvolvimento econômico tradicionais, como da agricultura, pecuária, mineração, bem como das áreas urbanas.
Para Rodrigo Rollemberg, o maior desafio do Brasil, neste momento em que se discute um Código Florestal (PLC 30/11), é mudar o quadro “vergonhoso” no qual 627 espécies animais brasileiras em risco de serem extintas em decorrência da destruição de seu habitat natural. Ele defendeu investimento em ciência, tecnologia e inovação para conhecer profundamente a biodiversidade brasileira e, assim, poder utilizá-la de forma sustentável.
“Temos de romper com a falsa dicotomia de que o desenvolvimento da agricultura destrói o meio ambiente. Podemos ser grande produtor de alimentos e de energia sem abrir mão da biodiversidade”, ressaltou Rollemberg.
O ministro do Superior Tribunal de Justiça Antonio Herman Benjamin, que abordou o tema sob a perspectiva nacional, afirmou ser impossível preservar sem a atuação do Estado e sem uma legislação atualizada. Em sua opinião, há uma lacuna entre a evolução da ciência e a reação do Direito.
“Avança o conhecimento científico, consensos são alcançados, mas tarda-se a dar uma resposta geral e jurídica que apóie os objetivos traçados pela ciência, observou, ao acrescentar que essa defasagem não pode ser aceita quando se trata de extinção de seres vivos”, afirmou o ministro.
ICMBio e a preservação das espécies
O Brasil tem feito um grande esforço para conservar suas espécies ameaçadas de extinção. A declaração foi dada pelo representante do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Mello, durante o debate.
Rômulo Mello lembrou que uma das missões do ICMBio é proteger espécies ameaçadas e informou que o Brasil abriga 134 mil espécies de animais, das quais 627 estão em risco de extinção.
“Pode parecer um número pequeno, mas é muito significativo. Temos que evitar que outras espécies entrem em risco de extinção”, afirmou.
Rômulo Mello afirmou que o ICMBio e parceiros científicos têm realizado grande esforço para identificar as espécies ameaçadas de extinção. Mello também defendeu a regularização fundiária, “pagando o preço justo”, quando necessário para a preservação do meio ambiente. Ele aproveitou para pedir mecanismos de financiamento estáveis para as ações de conservação da biodiversidade. “O financiamento precisa ser uma questão de estado e não de governo’, defendeu.
O representante do instituto também detalhou os Planos de Ação Nacionais para a Recuperação e Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção (PAN), que incluem desde fiscalizações até pesquisas e campanhas de educação ambiental. Segundo Mello, os PANs cobrem 23% das espécies ameaçadas e a expectativa é de que o número chegue a 100% até o fim de 2014. “Cada espécie reintegrada ao ambiente natural é uma grande vitória”, disse.
Acordos internacionais
Para a representante da Divisão de Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Larissa Maria Lima Costa, o Brasil tem uma preocupação conservacionista em relação às espécies ameaçadas de extinção.
Larissa Costa disse que a posição do Brasil nos fóruns de debate e nos acordos internacionais sobre meio ambiente é sempre defender o uso sustentável da natureza e a preservação das espécies. Para Larissa, mais importante que firmar um acordo internacional é ter condições de implementar as medidas combinadas. Ela explicou que um dos benefícios de participar de um acordo internacional é levar o problema ambiental para um nível mundial.
“O apelo fica maior. O que é decidido em um ambiente exterior termina por influenciar decisões posteriores no ambiente interno”, ressaltou.
A representante do MRE defendeu a importância da preservação da flora, já que as florestas formam o ambiente de vida dos animais. Larissa Costa ainda defendeu a identificação eletrônica de madeiras comerciáveis como forma de controlar o comércio legal e inibir o tráfico de madeira. Com informações da Agência Senado.
sidnei, 13 anos atrás
Bom dia,
Sou biólogo responsável tecnico de um pequeno zoológico em Foz do Iguaçu-PR ondfe o Instituto Chico Mendes arrecada fortunas no Parque Nacional do Iguaçu, e recebemos constantemente animais da nossa fauna, vítimas do tráfico , porém, o Instituto não repassa um centavo sequer para manutenção de zoológico que é mantido únicamente com verbas públicas municipais. Creio que as parcerias devem começar entre os orgãos municipais , estaduais e federais, na tentativa de preservar um pouco dessas espécies ameaçadas que ainda existem.
Roseli, 13 anos atrás
Boa tarde, Sidnei,
Creio que o seu comentário deveria ser colocado em formato de artigo.
O que você acha? Por favor, ma página do site, use o formulário fale conosco, para estudarmos isso.
Vamos verificar esse tema.
Obrigada,
Roseli