Lá e cá

em 18 October, 2011


Artigo de José Renato Nalini.

Em Copenhague, capital da Dinamarca, o meio ambiente é respeitado. Como ela não tem mais onde crescer, sem invadir áreas verdes, a Prefeitura construirá uma extensão equivalente a 200 estádios de futebol sobre o mar. O processo fará aterros que criarão ilhotas. Os trechos habitados do arquipélago artificial vão ser unidos por canais e pontes.

“Não podemos reduzir as áreas verdes para construir mais casas e precisaremos de mais moradia nos próximos anos”, é a justificativa de Jorgen Aildgaard, coordenador de assuntos climáticos da Prefeitura de Copenhague. Copenhague já possui muitos parques e ampla reserva florestal na parte sul da cidade, ao lado do aeroporto. Tive o privilégio de conhecer o “Tivoli”, um parque de diversões em que as flores, o verde e a natureza foram respeitados e são objeto de veneração por parte dos moradores.

A lei local veda que a cidade “cresça para cima”. Os prédios não podem ter mais de 6 andares. Ali, 36% da população usa a bicicleta como principal meio de transporte. A Dinamarca está preparada para os efeitos inevitáveis do aquecimento global. Tanto que esse projeto, vencedor de um concurso, leva em conta uma possível invasão da água, caso os níveis do oceano subam pó causa do derretimento das calotas polares.

Enquanto isso, a capital paulista perde 12.187 árvores em 4 meses, isso apenas em relação a cortes autorizados pela Prefeitura. O desaparecimento equivale a quase um parque do Ibirapuera desmatado em 120 dias. O replantio é capenga e conta com mudas insuficientes, falta de cuidados e desrespeito por parte da população. As jabuticabeiras plantadas para compensar a retirada de 80 árvores do Largo da Batata, em Pinheiros, morreram antes de alcançar 50 cm.

As pessoas pisam sobre as mudas, urinam no canteiro, jogam lixo. Não há o que resista. São Paulo perdeu quase todas as suas áreas verdes dentro da malha urbana. As compensações não passam de ficção. Na marginal do Tietê, jequitibás-rosa, ipês brancos e roxos, jatobás, paus-brasil, ingás e sibipirunas plantados ao longo dos 24 km morreram durante o processo de retirada e replantio dos novos canteiros, na reforma de 2010. Cada povo tem o que merece?

José Renato Nalini, desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo.

(As opiniões dos artigos publicados no site Observatório Eco são de responsabilidade de seus autores.)




1 Comentário

  1. Rafael Roldan, 13 anos atrás

    Como grande admirador do Magistrado autor deste texto, concordo.

    Exatamente por isso é importante a educação das pessoas. Não adianta impor leis feitas por um sistema mal formulado e depois querer aplicá-las quando as ordens judiciais são muito mal cumpridas.

    O importante é conscientizar a população sobre o tesouro natural do qual somos guardiões!


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