Organismos internacionais e o uso da biodiversidade na medicina tradicional
Da Redação em 8 October, 2020
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Artigo de Cristiano Caveião e Vinicius Bednarczuk de Oliveira.
A biodiversidade possui importância em várias áreas, como por exemplo: agricultura, indústria têxtil, produção de cosméticos, produção de medicamentos e é claro, não podemos deixar de citar a medicina.
O conceito de tradicional é complexo, não é possível compreender somente como “não ser moderno”. Trata-se de um termo abrangente, sendo a soma total de conhecimentos, habilidades e práticas baseadas nas teorias, crenças e experiências de diferentes culturas, explicáveis ou não, utilizadas na manutenção da saúde, bem como na prevenção, diagnóstico, melhoria ou tratamento de doenças físicas e mentais. As suas ligações com a biodiversidade são vistas por meio de uma longa tradição de poderes de cura atrelados aos sistemas naturais da Terra e isso remete as plantas medicinais e espécies animais.
A biodiversidade apresenta suma importância, visto que ela pode ser utilizada para amplas finalidades:
- Pesquisas: descoberta de aspectos não conhecidos de doenças ou até mesmo para a delimitação de componentes que servem para a elucidação de processos orgânicos e também vinculados a mecanismos patológicos;
- Desenvolvimento de medicamentos e técnicas médicas: as variadas substâncias e propriedades que são encontradas em animais e plantas demonstram grande potencial terapêutico, que podem ser utilizadas como a base de novas medicações ou ainda para uso em tecnologias relacionadas com a cura de patologias;
- Melhoramento genético: possibilidades de união adequada de genes que são provenientes de espécies diferentes e que possam gerar novos organismos os quais são mais fortes e adequados para melhorias no ramo da medicina.
Os organismos internacionais (Organização Mundial de Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde), na década de 1970, passaram a vislumbrar as práticas medicinais qualificadas. Esses interesses perpassaram por diversos debates públicos que foram transformados em políticas públicas, sendo uma delas a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos de 2006, que se configura em uma institucionalização do saber popular e tradicional, pela disseminação do conhecimento da biodiversidade nacional e no fomento à indústria farmacêutica nacional.
Em 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a sua primeira estratégia de medicina tradicional, desde então diversos países membros vem ampliando nos seus sistemas de saúde o uso da Medicina Tradicional. As estratégias da OMS visam auxiliar os países a:
- Desenvolver políticas nacionais de avaliação e regulação das práticas medicina tradicional;
- Criar uma base de dados mais fortes sobre a segurança, eficácia e qualidade dos produtos e práticas da medicina tradicional;
- Garantir a disponibilidade e acessibilidade da medicina tradicional, incluindo os medicamentos fitoterápicos essenciais;
- Promover o uso terapêutico da medicina tradicional por fornecedores e consumidores;
- Documentar medicamentos e remédios tradicionais.
As inter-relações apresentadas entre sociedade e natureza, e a importância da saúde ambiental para a saúde humana, chamam a atenção para o fato de que a perda da biodiversidade pode acarretar efeitos indiretos sobre o bem-estar. Não é possível considerar isoladamente a saúde humana, pois ela tem dependência com a qualidade do ambiente em que as pessoas vivem, ou seja, para as pessoas serem saudáveis, precisam de ambientes saudáveis.
Assim, a perda da biodiversidade reduz todas as fontes de matérias-primas, como por exemplo as plantas medicinais, impedindo a descoberta de novas drogas, provocando uma perda de modelos médicos, afetando a propagação de doenças humanas, e consequentemente ameaçando a produção de alimentos e a qualidade da água. Por estes e tantos outros motivos, reforça-se a importância de conservarmos a nossa biodiversidade não somente pensando no presente, mas também colaborando com as gerações futuras.
Cristiano Caveião, Enfermeiro, Doutor em Enfermagem pela Universidade Federal do Paraná, coordenador da área da Saúde do Centro Universitário Internacional Uninter e Vinicius Bednarczuk de Oliveira, farmacêutico, Doutor em Ciências Farmacêuticas, coordenador dos cursos de Farmácia e Práticas Integrativas e Complementares do Centro Universitário Internacional Uninter.