Bancos vão avaliar risco ambiental em contratos de empréstimos
Da Redação em 8 May, 2016
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A Natural Capital Declaration — uma iniciativa global liderada por instituições financeiras e estruturada pelo Programa de Meio Ambiente, da ONU, e pelo Global Canopy Programme, juntamente com o Emerging Markets Dialogue on Green Finance — lançou um projeto em parceria com diversas instituições financeiras de importância global para investigar o impacto de seus portfólios de empréstimos corporativos no âmbito de risco ambiental. No Brasil, este projeto conta com o apoio do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Em um primeiro passo, esse projeto piloto desenvolverá uma estrutura de análise para que testes de estresse bancário incluam cenários de resiliência econômica para indústrias de peso global quando da ocorrência de secas extremas. O projeto desenvolverá cenários para cinco países – Brasil, México, China, EUA e Índia.
Para Marina Grossi, presidente do CEBDS, falar de água e da necessidade de racionalizar e compreender os impactos do seu uso em um país que é detentor de cerca de 12% de toda a água doce disponível no planeta é crucial. “O risco hídrico já foi apontado na reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, como a principal ameaça para a sobrevivência de nossos sistemas produtivos. As empresas que ainda não consideravam os impactos de um cenário de restrições no uso da água em seus planejamentos estratégicos perceberam que precisam se preparar para situações desse tipo. Em paralelo, bancos e investidores também se preparam para este novo cenário, estudando sobre como devem também criar incentivos que possam privilegiar empresas mais eficientes no uso da água”, refletiu.
Esse projeto pioneiro, financiado pelo Ministério Federal da Alemanha para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (BMZ, na sigla em alemão), vai agregar os últimos avanços em ciência ambiental com técnicas modernas de projeção de risco. O time responsável pelo projeto escolheu a RMS — empresa especializada em desenvolver modelos para catástrofes e que trabalha em parceria com acadêmicos de universidades europeias de prestígio e centros globais de pesquisa — para desenvolver um cenário de seca para que instituições financeiras possam entender melhor sua exposição à riscos ambientais.
Nove instituições financeiras internacionais, que possuem mais de US$ 10 trilhões em patrimônio, ajudarão a desenvolver e a testar os parâmetros analíticos para assim garantir o desenvolvimento de uma abordagem homogênea e sistemática. O objetivo final é que os bancos possam avaliar o risco financeiro, em razão de financiamentos corporativos, em caso de secas extremas. São elas:
China: Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) Ltd
Brasil: Caixa Econômica Federal, Itaú, Santander
México: Banorte, Banamex, Trust Funds for Rural Development (FIRA)
Suiça: UBS
EUA: Citigroup
O projeto será orientado por um conselho composto pelos mais renomados especialistas na área, incluindo agências de classificação de risco, como a S&P; iniciativas globais, como o Programa da ONU para o Meio Ambiente (UNEP FI, na sigla em inglês); e instituições científicas, como a Universidade de Cambridge.
Jorge Sobehart, diretor da Citi Risk Architecture, disse: “Ajustar a modelagem de cenários para revelar como choques ambientais externos podem afetar a qualidade do crédito de certas indústrias será útil para testes de estresse”.
Liselotte Arni, diretora para Riscos Ambientais e Sociais da UBS, explica que “mudança climática é um fenômeno global, no entanto, o seu impacto será percebido de maneira diversa em diferentes geografias. Esse projeto investigará ideias novas, já que levará em conta variações locais enquanto testa o estresse do impacto de cenários de seca nos indicadores da qualidade de crédito em diferentes indústrias e regiões”.
O projeto buscará incrementar a ampla agenda de testes de estresse para o meio ambiente. O Financial Stability Board, sob o comando de seu atual presidente Mark Carney, e o grupo de estudos do G20 para Financiamento Verde, sob o comando da atual presidência chinesa, destacaram os testes de estresse para o meio ambiente como sendo um instrumento crucial para garantir a sustentabilidade do sistema financeiro.
Nick Robins, co-diretor de Investigações da UNEP, comenta: “Esse projeto multidisciplinar é bastante oportuno. Os bancos estão começando a experimentar maneiras de avaliar sua resiliência no que diz respeito a impactos climáticos. E reguladores financeiros estão explorando opções para testar as consequências de fatores ambientais, como a mudança climática.”
Yannick Motz, que administra o Emerging Markets Dialogue on Green Finance para o GIZ, afirma: “O desenvolvimento de testes de estresse para o meio ambiente ajudará a garantir a estabilidade do nosso sistema financeiro e fornecerá o alicerce para que instituições financeiras desenvolvam estratégias para enfrentar os desafios de adaptação às mudanças climáticas e degradação do meio ambiente, ao mesmo tempo em que apoiam a transição para o desenvolvimento de uma economia sustentável.”
Eric Usher, co-diretor da Natural Capital Declaration e diretor em exercício da UNEP FI, comenta: “Esse projeto vai dar um passo prático para o desenvolvimento da capacidade dos bancos em testar sua flexibilidade em relação ao aumento de riscos financeiros por causa de condições ambientais que podem se tornar um problema invisível para o crescimento da economia dentro da economia real.”
Daniel Stander, presidente da RMS, disse: “Esse projeto inovador mostrará evidências de que técnicas de modelagem de catástrofes têm aplicações que vão muito além da indústria que as originou. Esse projeto tem o potencial para proteger o PIB do risco proveniente da exposição de instituições financeiras a riscos ambientais. O projeto pode também estimular corporações no mundo todo a tomar atitudes sustentáveis em seus negócios”. Com informações da assessoria.