Menos carros e mais cidade

em 7 September, 2011


Artigo de Itamar Berezin.

O problema do trânsito nas grandes cidades é um tema que cada vez mais ganha voz na discussão de diferentes setores. Em meio a tantas conversas, muitos são os motivos apontados para o caos que parece não ter mais solução. Mas o que alguns ainda não se atentaram é que o setor da construção e arquitetura também influencia não somente no crescimento das metrópoles, mas, também, na quantidade de carros que circulam nelas.

Em uma cidade como São Paulo, que possui mais de 11 milhões de habitantes, o uso dos automóveis é uma verdadeira cultura. São cerca de 3,5 milhões carros emplacados e circulando na capital, além daqueles que vêm de fora e entram na cidade todos os dias. Mas há espaço para toda esta frota de veículos? Buscando atender esta demanda, escritórios de arquitetura e construtoras têm projetado prédios que contemplam um número maior de vagas por exigência da legislação, agravando ainda mais a já complicadíssima situação do trânsito.

Por exemplo: dentro do segmento da construção civil, para projetos de prédios comerciais, é aconselhado seguir uma regra básica legal de disponibilizar uma vaga para cada 35m² de área construída. Um edifício que possui 2 mil m² de área construída, por exemplo, deveria ter, em média, 57 vagas em sua garagem. Mas não é exatamente isso que vem acontecendo.

Orgãos governamentais solicitam, quase sempre, a construção de garagens com um número maior de vagas. Para diversos empreendimentos, a justificativa usada é a de que grande parte das pessoas virá trabalhar com automóvel.

Isto nos remete a outro problema. Atualmente, temos um crescimento horizontal da capital paulista em função do atual plano diretor municipal, e não da verticalização com edifícios, como muitos acreditam. São Paulo tem menos de 20% de seu território verticalizado. Com um mercado imobiliário altamente inflacionado, tanto em novas unidades como usados, as pessoas são obrigadas a sair da região central da metrópole, em função dos altos preços praticados.

Temos, então, um ‘congelamento’ da cidade e uma redução do seu crescimento, já que a maioria das pessoas cada vez mais está obrigada a procurar alternativas fora de São Paulo e vem à capital somente para trabalhar, fazer compras, cumprir compromissos… Isso causa um aumento da circulação de carros diariamente e, consequentemente, maiores congestionamentos, mais poluição do ar e uma significativa diminuição da qualidade de vida.

Só para se ter ideia, o individuo que opta por tomar um ônibus para ir para trabalho, ao invés de ir de carro, reduz para um décimo o impacto ambiental provocado pelo automóvel no trajeto. Sem dúvida, pesados investimentos para oferecer um transporte público abrangente e de qualidade precisam ser realizados. Mas, infelizmente, São Paulo está ainda longe de oferecer estímulos reais para o cidadão deixar o carro na garagem ou conseguir morar próximo do seu local de trabalho.

Bons exemplos estão mais próximos de nós do que imaginamos. Saindo do lugar comum que toma como referências grandes metrópoles como Paris, Londres ou Nova York, que são de países desenvolvidos, podemos citar a Cidade do México. A capital possui um sistema de metrô com mais de 200 km de trilhos, que atende a cinco milhões de pessoas diariamente e custa menos que 40 centavos de Real. Já a malha do metrô paulistano tem modestos 70,5 km de extensão. Com um transporte público bem-estruturado e que incentiva o uso regular de bicicletas por meio de ciclovias, a Cidade do México conseguiu tirar milhares de carros das ruas e, assim, sair da lista das dez cidades mais poluídas do mundo.

Se persistir esta situação, teremos nos próximos 10 ou 15 uma estagnação do crescimento habitacional, mas ainda com demandas crescentes de transportes e serviços. Assim, veremos São Paulo passando por uma situação que já acontece em outras grandes capitais no mundo que é a falta de capital para continuar investindo em melhoramentos.

Itamar Berezin, arquiteto e urbanista.

(As opiniões dos artigos publicados no site Observatório Eco são de responsabilidade de seus autores.)




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