Casas que produzem sua própria energia são viáveis?
Da Redação em 17 July, 2011
Tuite
Artigo de Natascha Trennepohl.
Será que é possível uma casa gerar a energia que consome e em apenas 30 anos ter produzido a quantidade necessária para compensar a que foi usada para produzir os materiais de construção? Essa é a expectativa de empresas européias que estão investindo no conceito Active House. A idéia é unir design e desempenho nas construções, viabilizando não apenas o uso de energia renovável, mas também uma maior utilização de iluminação e ventilação naturais. Aqui, o foco é usar a energia de forma sustentável e reduzir a pegada de carbono dos moradores, ou seja, diminuir o impacto ambiental das construções em termos de emissões de CO2.
A primeira Active House está localizada na cidade de Aarhus, Dinamarca. O projeto, chamado de Home for Life, é parte da iniciativa Model Home 2020. Outros projetos experimentais de imóveis carbon-free estão sendo construídos na Dinamarca, na Alemanha, no Reino Unido e na França. Esses projetos vão ser concluídos entre 2010 e 2011 e vão testar novas tecnologias e protótipos.
Com uma simples olhada na fachada da Home for Life já é possível perceber que apesar de parecer uma casa normal, pequenos detalhes mostram que ela é diferente. As janelas são amplas, cobrem 40% da área construída (190 m2), média bem maior do que os usuais 20-25%, e estão distribuídas pelas quatro fachadas da construção. Os painéis solares no teto fazem o ambiente ficar ainda mais iluminado. Com isso, pode-se aproveitar melhor a luz e a ventilação naturais, economizando-se muita energia. Mais um detalhe: a abertura e o fechamento das janelas são controlados por um computador que monitora a temperatura interior e decide o momento adequado para refrescar ou esquentar o ambiente. É claro que há a possibilidade de abertura manual, mas o sistema avisa os moradores caso as janelas não estejam sendo abertas e fechadas nos momentos que garantam a maior eficiência energética.
Seguindo o mesmo conceito, está sendo construída a Sunlighthouse, uma casa neutra em carbono, no interior da Áustria. Aqui, a localização das janelas também foi estrategicamente planejada para proporcionar a melhor visão da região, uma maior ventilação e o máximo aquecimento/iluminação dos ambientes pelo sol.
A Solar Activehouse, localizada em Kraig, na Áustria, também usa o sol como fonte de energia. A casa é chamada de ‘Fonte de Luz’, já que o projeto prevê que ela produza energia suficiente para atender as necessidades de uma família de quatro pessoas, fornecendo aquecimento e água quente o ano inteiro. Os inúmeros painéis solares que cobrem 40m2 do telhado são os responsáveis pela façanha. As janelas, que cobrem 42% da área construída (150 m2), também são controladas por computador, abrindo e fechando dependendo da temperatura e da quantidade de CO2 no ambiente.
Apesar da impressionante economia de energia estimada nesses projetos, é importante saber como o fator humano interfere nessas casas inteligentes. A maioria delas ainda está em fase de construção. No caso da Home for Life, desde meados do ano passado uma família está morando na casa e testa se as pressuposições feitas pelos engenheiros sobre o uso eficiente de energia condizem com as necessidades reais de uma família de quatro pessoas. Durante os seis meses iniciais do experimento foram monitorados o consumo e a produção de energia da casa. Nesta primeira fase, o consumo foi maior do que o esperado, isso devido ao hábito da família de retirar o controle automático e abrir janelas, maximizando a perda de calor, ou usar cortinas para garantir a privacidade, mas com isso, impedindo a entrada da luz do sol.
É interessante ler o diário online da família e perceber como o fator humano interfere nesse sistema. É possível ver as sugestões que eles fazem às chamadas tecnologias inteligentes. Um exemplo é o sistema que desliga automaticamente as luzes se não há movimento no ambiente. No entanto, existem relatos da família contando que as luzes se apagaram em momentos em que as pessoas estavam concentradas fazendo alguma atividade, como lendo na cama antes de dormir. Eles sugerem que esse sistema identifique, ao invés do movimento, a temperatura corporal no ambiente. Ou, então, que a luz seja automaticamente religada com o breve movimento corporal no ambiente. Essas e outras sugestões acabam sendo muito importantes para harmonizar uma vida confortável com uma forma sustentável de interagir com o meio ambiente.
A filosofia por trás dessas casas vai além da economia de energia. Estamos diante de iniciativas que podem viabilizar um futuro sustentável para as próximas gerações. Iniciativas muito bem vindas, principalmente quando estamos enfrentando tantos problemas relacionados com as mudanças climáticas e o esgotamento dos recursos naturais. Em consonância com a filosofia das Active Houses: elas não são apenas casas, elas são uma nova forma de interagir com o meio ambiente e minimizar os nossos impactos.
Natascha Trennepohl, advogada e consultora ambiental, Mestre em Direito Ambiental (UFSC), Doutoranda na Humboldt-Universität (HU) em Berlim.
Artigo publicado originalmente nas revistas Casa e Neomundo e gentilmente cedido pela autora.
(As opiniões dos artigos publicados no site Observatório Eco são de responsabilidade de seus autores.)